Não nos diminuamos. Para começo de conciliábulo. A imprensa dita regional não existe. Existe imprensa. As mesmas práticas, deontologia e ética. Tudo o resto é frigir carne sem fogo. Lembro-me logo do Villas Boas. Já lá vão três meia dúzia de anos. António Villas Boas faleceu em 2017 e muito nos ensinou. Proximidade, mas eu não discuto doutrina e manuais, estou na práxis.
Ora esta é a primeira resposta ao meu Camarada da Associação Portuguesa dos Media Digitais Online.
Exemplos. O estudo “Desinformação nas Legislativas 2025: atividade dos partidos nas redes sociais”, realizado pelo LabCom – UBI, analisou publicações no Facebook, X, Instagram, TikTok e YouTube entre 18 de abril e 18 de maio de 2025, identificando conteúdos desinformativos em contexto eleitoral.
Os principais resultados apontam para o crescimento da desinformação na esfera pública digital.
Perante isto o apagamento. De quem testemunha, de quem escreve, de quem reporta. Das empresas, que nunca perceberam o valor da notícia e da reputação. Lembro bem 2014 e como silenciaram o Correio Beirão.
Siga e tomo como bom que a “imprensa regional é líder de audiências em Portugal, bastam 23% das publicações regionais para atingir 10 milhões de pessoas mais a diáspora, mais 5 milhões lá fora”. Eis o maná. Na práxis, como bem tem anotado Nobre-Correia, não falamos para estas pessoas. “Força editorial e capacidade de penetração nos diversos públicos, nacionais e na diáspora, extraordinária, em que os nacionais só sonham”, eis o anátema. Primeiro é preciso por as pessoas a ler jornais. Sim, bem sei que seguem os jornais, mas são bem poucos hoje. Porque lá no 2002, já na Rádio F, chegavam todos. Hoje são muito menos. Infelizmente. A tecnologia ajudou, ainda bem, a reduzir a sangria.
Agora, diz o meu Camarada, chegou a altura de “desenhar uma espécie de bloco central estruturado, que vise informar o governo que a imprensa regional anda aqui há muitos anos, sempre fez um trabalho extraordinário, noticiando localmente o que as populações precisam de saber, substituindo-se aos jornais nacionais que noticiam menos de 1% das realidades regionais”. Tomo, de novo, como bons os números. Porém, se o Governo não lê os jornais locais, é tolo.
Inovar. Fazer, mostrar e inovar. E cuidar do leitor. A principal matéria-prima de um país são as pessoas, é um facto incontornável. E é para essas que precisamos de um forte programa de literacia mediática. O jornal em cima da mesa do café por favor. Os jornais, como no antes. Não vale a pene rirem, foi decretada guerra ao riso.
De ano para ano desce o número de jornais regionais publicados em Portugal, fecham estações de rádios, convertidas em retransmissores de estações nacionais e concelhos há, onde nem papel nem ondas hertzianas informam a população. Uma aridez que aumenta a cada dia que passa. Porém, ainda há quem resista e mostre como é possível manter o povo informado e os jornais vivos.
O jornal Praça Alta, em Almeida, tem 5 anos de sobrevivência pela frente. Mas neste jornal de fronteira, a vida tem sorrido às rotativas. Com 29 anos, cresceu das 20 para 36 páginas, introduziu cor e mantém vitalidade.
Mais a sul, nas mesma Raia, mas em Idanha-a-Nova, a Rádio Monsanto fechou portas e passou a retransmissor de uma estação de Lisboa.
Os libertários e os novos paladinos da literacia esquecem o essencial. A guita. É preciso valorizar mais o trabalho qualificado da imprensa, cobrar por ele e desvalorizar o capital. Não pode haver investimentos preguiçosos. É de lutar e moer. Não deixa de ser uma empresa, que emprega pessoas e paga impostos. Que se querem de acordo com o fim da atividade produzida. E produz noticias.
Dupla avaliação, de profissionais e empresas. Mais a tecnologia. São três departamentos governamentais a regular a imprensa.
Em janeiro estavam registados na ERC 480 jornais regionais generalistas, entre edições em papel e eletrónicas, num universo de 1704 publicações periódicas, alguns dos quais faleceram no entrementes.
São 182 concelhos, de 308, com imprensa. O resto é o deserto. Os jornalistas não são inimputáveis. Temos de correr mais. Perder o medo. A democracia não sobrevive sem imprensa.
Voltemos a Almeida para perceber melhor como sobrevive o Praça Alta, distribuição gratuita e uma tiragem de 1050 exemplares, custo de impressão de 900 euros.
O cumprimento da lei de publicidade, que obriga cartórios e notários a publicar editais nos jornais dos concelhos. Eis um princípio. Claro, mais os sócios da associação que franqueia jornal e jornalismo. E os leitores, que precisamos e reclamamos. A bem deles, e nosso.
Levar o jornal às escolas, aos lares, criar e preservar hábitos de consumo de imprensa.
E não estamos regionalizados. A luta tem de ser vista pelo prisma país.
A esfera pública digital não pode ser um território sem regulação simbólica, tem de ter a práxis. A mesma. Somos uma só imprensa.
Dividir, regionalizar, ainda mais o direito à informação fidedigna, verdadeira e rigorosa, é acantonamento para onde não marcharei.
A literacia mediática e a consciência, cívica essas sim. Ferramentas urgentes.
Amadeu Araújo, jornalista