Olhar sem ver

Nas trevas, que nos desfocam ou geram opacidades várias, deixamos de vislumbrar os mistificadores e a sua plurivocidade equívoca, geralmente prestidigitadores, de dedos prestes a gerar a ilusão.

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  • 13:33 | Domingo, 29 de Junho de 2025
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Nesta fotografia, a fenda estreita entre a parede e a coluna faz sobressair o grão da pedra e as volutas desta — nas quais nunca reparamos — e o granito do fundo, da parede, acamado.

Os ‘puncta‘.


Curiosamente, já recebi algumas mensagens de amigos/conhecidos viseenses a perguntarem do topos (hoje dir-se-ia coordenadas) de algumas das imagens: em pleno centro histórico de Viseu, na zona circundante da Sé.


E porquê o advérbio de modo que inicia o parágrafo?

Porque as pessoas, na sua generalidade, perderam a visão. Olham mas não vêem.

Sinais da vertiginosa mutabilidade, essa mutação acelerada que faz perder ao homem o desejo de ver, e também da defesa que se instala no ‘vidente’, tão barbaramente agredido com o que não quer ver, ou poluição visual.

Hoje, o olhar está de tal modo subjugado a um dirigismo alheio que no-lo manipula, que desperdiçou (forma de perdição), atrofiou a autonomia ou liberdade da busca.

O olhar brutalizado, não alegoricamente vendado como a Justiça, mas pior ainda, antolhado como aos equídeos de tiro de um passado próximo…

Se só se deve ver num sentido, ou um sentido, perdemos a polissemia do observado pelo condicionamento ou perda da acuidade visual

E isso é tão perigoso quanto extrapolável deste campus e alargado a uma forma de estar no mundo, do cidadão que perde, pacificamente, o seu direito de intervir, acarneirando-se ou aceitando jugos e cangotes, que sempre tiveram suas mais sólidas bases no atavismo e na ignorância. Ignorante, sendo o que não ‘vê’.

Nas trevas, que nos desfocam ou geram opacidades várias, deixamos de vislumbrar os mistificadores e a sua plurivocidade equívoca, geralmente prestidigitadores, de dedos prestes a gerar a ilusão.

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