Imigrantes….

Fomos tantas vezes humilhados, discriminados, maltratados, passámos fome e frio. Adoecemos. Vivemos em barracas, sem condições nenhumas, comemos o pão que o diabo amassou!

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  • 13:17 | Quarta-feira, 25 de Junho de 2025
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A angústia que sinto é a angústia das pessoas de bem…

Vivemos tempos tão difíceis e pesados que sinto, cada vez mais, uma necessidade de gritar, a quem me pode ouvir, que eu tenho uma opinião, uma posição e que a neutralidade não é, definitivamente, um campo onde eu me coloco ou me sinta confortável.

Se com a minha opinião conseguir influenciar positivamente as pessoas que me rodeiam ou me seguem nas redes, ajudando-as a refletir melhor, a repensar algumas posições, já vale a pena andar por cá. Sou uma pessoa de bem e do bem. Mas sou muito inquieta e, ultimamente, tenho sentido uma grande angústia, uma angústia que me atravessa o peito, por ouvir pessoas boas, justas, humildes a dizer coisas muito feias, cruéis e desumanas contra outras pessoas — os imigrantes.


Atenção, gente boa e honesta, somos um povo de emigrantes, de pessoas que partiram para a França, a Suíça, Alemanha, Canadá, Estados Unidos e antes destes todos, para o Brasil, desde o final do séc. XIX, em busca de uma vida melhor. Fomos tantas vezes humilhados, discriminados, maltratados, passámos fome e frio. Adoecemos. Vivemos em barracas, sem condições nenhumas, comemos o pão que o diabo amassou! Há uma canção do Joe Dassin, de 1971, que se chama “le portugais”, que retrata perfeitamente o que sofreram os portugueses que emigravam para França. Escutar essa canção e ler essa letra ainda hoje me provoca umas pontadas, tal como me acontece quando ouço demonizar os desgraçados dos emigrantes que vieram para o nosso país em busca de melhores condições de vida. Tal e qual como nós fizemos!

Mais triste ainda é ver os pobres a culpar outros pobres pelos nossos problemas!

Não se responsabilizam os milionários, nem as corporações, nem as multinacionais que só têm o lucro como objetivo, nem os grandes grupos económicos que têm a sua sede nos paraísos fiscais para não pagarem impostos.

Não, culpa-se o desgraçado do paquistanês que trabalha toda a noite a fazer entregas de comida, vive longe da família e em condições miseráveis… São esses paquistaneses, nepaleses, indianos…os culpados de tudo o que nos acontece de mal?

São eles que tiram os empregos aos portugueses ou fazem aquilo que nós não queremos? Por outro lado, não serão as contribuições deles para a segurança social que a estão a sustentar, quando ainda há poucos anos ouvíamos dizer que as pessoas da minha geração já não iam ter reformas? Reflitamos um bocadinho, por favor!

(Foto DR)

 

“Avec son marteau-piqueur
Il creuse le sillon de la route de demain
Il y met du cœur
Le soleil et le gel sont écrits sur ses mains
Le Portugais dans son ciré tout rouge
Qui ressemble à un épouvantail
As-tu vu l’étrange laboureur des prairies de béton
Et des champs de rocailles
Il faut en faire des voyages
Il faut en faire du chemin
Ce n’est plus dans son village
Qu’on peut gagner son pain
Loin de son toit, de sa ville
A 500 lieux vers le nord
Le soir dans un bidonville
Le Portugais s’endort
Il est arrivé à la gare d’Austerlitz
Voilà deux ans déjà
Il n’a qu’un idée, gagner beaucoup d’argent
Et retourner là-bas
Le Portugais dans son ciré tout rouge
Qui ressemble à un épouvantail
Il ne te voit pas
Il est sur le chemin qui mène au Portugal
Il faut en faire des voyages
Il faut en faire du chemin
Ce n’est plus dans son village
Qu’on peut gagner son pain
Loin de son toit, de sa ville
A 500 lieux vers le nord
Le soir dans un bidonville
Le Portugais s’endort”

Joe Dassin

 

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