Teria entre dezanove e vinte e poucos anos, mas já rapariga encartada, quando vivi uma situação que ilustra muito bem como os estudantes eram e continuam a ser vistos pelos mais velhos: irreverentes, contestatários, e às vezes até um pouco atrevidos.
Ainda hoje tenho fama de estacionar mal o carro e confesso que não é apenas fama, às vezes imponho-me uma mudança, mas quando dou por mim lá estou a colocar o dito no primeiro espaço que me aparece.
Tenho tido sorte porque fora umas advertências sempre oportunas, multas até hoje paguei uma. Mas vamos à história: numa das nossas idas para Moimenta com o carro apilhado de irmãs e primas estacionei junto da casa Irmãos Correia, onde naquela altura era proibido estacionar. Andámos por lá e quando cheguei ao carro deparo com um papel assinado por um agente da GNR, a solicitar que me dirigisse ao posto. Quando analisei com olhos de ver a dita missiva dou conta que a matrícula do carro que era UZ-44-55 estava escrita de tal forma que o Z parecia um S.
Agarrei-me aquela confusão com unhas e dentes e vi ali a hipótese de me livrar da multa. Dirigi-me ao posto, e argumentei com o agente em causa que aquela não era a matrícula do meu carro e que por isso não me podia multar!
Realmente ser estudante é quase um estatuto, um estudante vive de forma mais livre, mais autêntica que tem a ver com as aprendizagens académicas e com as aprendizagens da vida académica. Vestem de forma diferente, falam entre si de forma diferente e até os quartos e apartamentos são diferentes. Ao entrarmos numa casa de estudantes deparamos com recortes de jornais nas paredes, com recados que já perderam a validade, mas continuam ali amarelecidos pelo tempo, com posters e bandeiras com os seus ídolos expostos como se quisessem mostrar um pouco de si a quem lá vai!
As casas dos estudantes têm um cheiro e uma vida própria porque ser estudante também é sinónimo de não resignação e de contestação!