A Viseu Marca e a zanga das “comadres”

Sabe-se que o relacionamento entre João Cotta e Pedro Alves não é o melhor. Que aquele se sente “desconfortável” com a gestão deste, mas que, fruto de vicissitudes que transcendem o comum dos mortais, as tem engolido “em seco”.

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  • 11:55 | Quinta-feira, 19 de Junho de 2025
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O “eterno e duradoiro” presidente da AIRV, João Cotta, um autêntico “missionário” empresarial, anda agastado com a Viseu Marca e com o seu presidente Pedro Alves.

E porquê?

Façamos um recuo temporal para percebermos (?) a constituição da sociedade desta PPP entre a CMV, a AIRV e a ACV.


Eventualmente para evitar a apresentação de contas públicas (será?), a CMV ficou detentora de 48% do capital social da Viseu Marca, a AIRV outros 48% e a ACV 4%. Assim sendo, o predomínio do acionista Câmara só se exerceria se a Associação Comercial votasse a seu lado. Ou não. Provavelmente, desde o início, ter-se-á acordado ser o presidente da autarquia a ditar as regras do jogo (haverá uma “side letter” lavrada?).

E foi-o com o falecido presidente Almeida Henriques e deve sê-lo com Fernando Ruas, o sucessor, que ab initio nomeou de imediato para presidente da Viseu Marca, Pedro Alves e a sua equipa, mais tarde reduzida com a saída do seu secretário executivo.

As contas da Viseu Marca sempre foram tornadas públicas com alguma relutância. Vá-se lá a saber porquê. Mais quando houve um saldo negativo de quase 200 mil euros, salvo erro em 2023, no ano em que, pelos entusiastas gestores se falava em todos os recordes de bilheteira batidos, a maior afluência pública desde sempre, etc. Afinal eram só palavras que os factos materiais não confirmaram. Ou confirmaram?

De certo se sabe que Cotta, nesse ano, pediu uma auditoria externa às contas e, de seguida, no meio da maior confidencialidade, se remeteu a um complacente silêncio. Porque não tornou Cotta esta auditoria pública? Serviu apenas para se justificar face aos associados da AIRV? Justificar o quê, se Cotta nada riscava na gestão da Viseu Marca?

Se as contas das empresas devem ser apresentadas até final de Março, de facto, estranha-se que, uma vez mais, em finais de Junho, ainda estejam em ponderativa análise.

O que parece inquietar João Cotta, que tem de apresentar contas aos associados da AIRV e nada tem para o efeito, parecendo recear ser novamente surpreendido com o “coelho que vai sair da cartola”…

Efectivamente, a Viseu Marca, tornando-se meramente uma “gestora” da Feira de S. Mateus, dos seus feirantes e dos seus espectáculos, ter-se-á afastado dos seus desígnios primaciais que eram os de “criar competências locais e regionais de marketing territorial, contribuindo para promover e valorizar a marca da cidade e região, os seus atributos turísticos, os seus talentos humanos criativos e grandes acontecimentos culturais e económicos, como a Feira de São Mateus”.

Ao centrar-se exclusivamente na Feira de S. Mateus e sempre envolta em atritos residuais, está longe dos “grandes acontecimentos culturais e económicos” do Concelho, que, em boa verdade, fruto da desactualizada e inepta gestão autárquica de Fernando Ruas, não existem. Ou são pífios…

Sabe-se que o relacionamento entre João Cotta e Pedro Alves não é o melhor. Que aquele se sente “desconfortável” com a gestão deste, mas que, fruto de vicissitudes que transcendem o comum dos mortais, as tem engolido “em seco”.

A questão é: porque se queixa Cotta se, com os seus 48% mais 4% da ACV poderia, com 52% ser o accionista maioritário da Viseu Marca, nomear o seu presidente, os seus gestores executivos e definir o seu integral plano anual de actividades?

Boa pergunta, para a qual ninguém encontra resposta ou à qual ninguém tem a coragem de responder.

A João Cotta, cabalmente subalternizado neste processo, bastar-lhe-á agora abandonar esta “empresa” por discordar do seu modelo de gestão atual, como admitiu à Lusa?  Mais esclarecendo “A AIRV pediu uma Assembleia Geral, devido ao seu desconforto quer com o modelo de governação, quer com o modelo de gestão. Vamos discutir o futuro com os sócios”, e acrescentando que ‘esta discordância já dura há algum tempo’ ”.

Afinal quais são as fontes da discordância? Há quanto tempo dura? Quais os erros de gestão que o levam a dela discordar? Porque é que a AIRV com os mesmos 48% da CMV é um sujeito aparentemente “passivo” no modelo de governação?

Mais enfatiza Cotta que essa saída terá de ser feita de forma “transparente”. Há outras hipóteses?

Pedro Alves, por seu turno, explica que as contas ainda não foram apresentadas devido a “um problema operacional”. Esta expressão é eufemismo de quê? Todos os anos existe um “problema operacional” a gerar esta dilação? Não tiveram ainda tempo para o ultrapassar?

Mas diz mais, o presidente da Viseu Marca nomeado por Ruas, e cita-se com a devida vénia:

“Se a AIRV quiser sair, a AIRV sabe como é que entrou e como é que tem de sair…”

Afinal, como é que entrou a AIRV para esta sociedade?

Alves ao falar no modo como a AIRV tem de sair, está a pôr à porta da rua João Cotta e a AIRV a que preside.

Será hoje a AIRV um estorvo à prossecução empresarial da Viseu Marca?

Por ser Cotta uma voz discordante e não ser o desejável “yes man”?

De seguro nada se sabe, mas basta esta conjectural teia de “intrigas” para ninguém ficar bem no retrato, não esquecendo que, afinal “o dono disto tudo” será Fernando Ruas, o qual tem em Pedro Alves o seu executor braço direito.

Vamos aguardar pelos próximos episódios e por este braço de ferro Alves/ Cotta, ou Ruas/Cotta ou seja lá entre quem for, para a cabal dilucidação de todo este imbróglio…

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