“Votar em qualquer partido que não fale de Gaza nesta campanha, não se oponha ao maior horror do nosso tempo de vida, é normalizar esse horror. É ser parte dele.”
Alexandra Lucas Coelho, jornalista, escritora, autora de “Gaza Está em Toda a Parte”.
“O sangue de Gaza também está nas mãos da União Europeia. O acordo de associação UE/Israel deve ser denunciado e impostas sanções.”
Catarina Martins, eurodeputada.
Esta crónica será publicada três dias antes das eleições de 18 de Maio. Provavelmente muitos leitores só a lerão depois de terem ido votar. Nesse caso, leiam-na como uma declaração de voto. Mas, por amor do vosso/nosso futuro, vejam bem em quem votam.
Compreendo os muitos portugueses que se sentem desiludidos com esta democracia que ao longo de 50 anos conseguiu muitos avanços nos direitos cívicos e laborais, na qualidade de vida em geral, como o Serviço Nacional de Saúde, a Escola Pública para todos, a paz (com o fim da guerra colonial), alguns dos direitos reivindicados pelas feministas e mais igualdade de género, mas ainda está longe de conseguir a igualdade de salário para as mulheres, e todos os problemas de exclusão e insucesso das camadas mais pobres da população na escola pública (com 38,7% das minorias forçadas a desistir dos estudos por falta de dinheiro, e todas as barreiras no acesso universal ao ensino superior), as crescentes desigualdades sociais (os 10% mais ricos detêm 40% da riqueza do país), a falta de habitação e a subida escandalosa dos preços das rendas de casa, a degradação contínua do Serviço Nacional de Saúde (que já foi um dos melhores do mundo!), com o objectivo de favorecer os hospitais privados nas mãos de grandes grupos económicos. Não por acaso, em 2024, a mortalidade infantil aumentou 20%!
Mas cuidado com os vendedores da banha da cobra, charlatães encartados que dizem ser contra o sistema, mas são financiados por grandes capitalistas que sustentam o sistema. Basta ver a qualidade dos seus deputados: pedófilos, ladrões de malas e caixas de esmolas, agressores de mulheres, condenados por violência, difamação e outros crimes. E votam no Parlamento a favor dos vistos “Gold” e dos benefícios fiscais para os estrangeiros ricos que fazem subir os preços das casas, enquanto culpam por todos os males os ciganos, que tanto têm contribuído ao longo de 600 anos para a cultura portuguesa, apesar de abusados e discriminados, e os imigrantes, que enriquecem a nossa sociedade multicultural e a nossa economia com o seu trabalho, muitas vezes sobre explorado.
Cuidado com os que se dizem muito liberais e enchem a boca com a “liberdade de escolha”, mas mais não fazem do que propor a liberdade dos mais poderosos continuarem a enriquecer à custa do erário público e da privatização dos bens comuns e das empresas estratégicas do Estado que ainda restam, até darmos conta do apagão de todos os “faróis” ao mesmo tempo. E que outra coisa se poderia esperar de um partido que tão excitado ficou com a vitória de um chanfrado como Milei, que, de moto-serra em punho, (a mesma que inspirou Elon Musk a despedir em massa funcionários públicos, até ser obrigado a recuar) também cortou nas despesas na Saúde (até saiu da Organização Mundial de Saúde), no ambiente (quer sair do acordo de Paris sobre o Clima, negando as alterações climáticas), e em muitos outros serviços públicos, com despedimentos colectivos, para além de retirar a Argentina da Comissão de Direitos Humanos da ONU e retirar da lei a protecção das mulheres contra os crimes de violência doméstica.
Estes (neo)liberais candidatam-se a ser um “CDS modernaço” numa maioria de direita chefiada por um “chico-esperto” avençado de grandes grupos económicos, sem pingo de vergonha por ter violado o princípio da exclusividade de funções.
Eu, por mim, voto pelo SNS, pela minha saúde, a da minha mulher e a dos meus filhos, pela melhoria da minha pensão de reforma, mas também pelo fim das desigualdades entre o litoral e o interior, pela ferrovia, pelo ambiente e o controlo pelo Estado dos bens comuns essenciais (água e energia) e das empresas estratégicas. E por mais justiça fiscal, a começar pelo imposto sobre as grandes fortunas: Uma taxa de 1,7% sobre rendimentos líquidos (excluindo casa própria e dívidas) superiores a 3 milhões de euros, daria para subir 3 vezes mais as pensões dos mais pobres.
Também nunca votarei em partidos que têm sido cúmplices, por acção ou omissão, do genocídio perpetrado por Israel na Palestina, nos governos de Portugal (tanto do PSD/CDS como do PS), e no Parlamento Europeu (da extrema-direita ao centro-esquerda).
Não votarei nos partidos hipócritas que ao mesmo tempo que não levantam a sua voz contra o maior Genocídio do nosso tempo, a seguir ao Holocausto, querem sacrificar as pensões e os salários para aumentar a despesa com o rearmamento, como já fez a Bélgica que aumentou a idade da reforma e reduziu em 5 mil milhões o Plano de Orçamento para pensões e subsídio de Desemprego até 2029.
A Comissão Europeia de Durão Barroso obrigou um presidente ucraniano a escolher entre ter acordos comerciais com a UE ou com a Rússia, país com uma história e cultura comum, o que levou à guerra civil que em oito anos provocou 14 mil mortos. A Europa apoiou as provocações expansionistas da NATO (denunciadas por Mário Soares, em 2008), ajudou a violar os Acordos de Minsk, a boicotar as negociações de paz em Istambul e em vez de apresentar propostas exequíveis para um cessar-fogo permanente que levasse ao fim da invasão russa e a um acordo de Paz, faz ameaças e deita mais gasolina no fogo da guerra para lucro da sua indústria armamentista e dos seus interesses geoestratégicos e de saque das riquezas da tão depauperada Ucrânia (agora chantageada por Trump), insensível às centenas de milhares de mortos, feridos e refugiados ucranianos.
Voto também pela Paz e amizade entre todos os povos!