A honra dos torquemadas

      Cingir um incidente grave a uma bizantina polémica do tipo ” a defesa da honra nunca tinha sido aqui invocada” é esquecermos o essencial e conformarmo-nos ao acessório. A cena passa-se na 2ª feira passada na reunião ordinária da Assembleia Municipal de Viseu. Almeida Henriques usa o antroponímico Torquemada para se dirigir […]

  • 13:39 | Quarta-feira, 12 de Novembro de 2014
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Cingir um incidente grave a uma bizantina polémica do tipo ” a defesa da honra nunca tinha sido aqui invocada” é esquecermos o essencial e conformarmo-nos ao acessório.
A cena passa-se na 2ª feira passada na reunião ordinária da Assembleia Municipal de Viseu. Almeida Henriques usa o antroponímico Torquemada para se dirigir à oposição. O deputado Hélder Amaral sentiu-se visado, não gostou e invocou essa figura da honra contemplada no Regimento.
Primeiro: saberá Almeida Henriques mais do que o superficial sobre quem foi essa sinistra figura de um tempo em que se torturavam e queimavam na fogueira judeus e opositores acusados por radicalismo religioso, ignorância, fanatismo, oportunismo, feitiçaria, interesses vis e materiais, inveja e maldade? Talvez não. Almeida Henriques parece ser cosmético homem de cultura “envernizada”.
Segundo: se a figura regulamentar existe, existe para quê e porquê existe? Um adereço retórico? Se não foi até 2ª feira invocada, tal estado confere -lhe o direito do “jamais”? Há uma primeira vez para tudo. Ou não?
Terceiro: provavelmente o problema reside num pressuposto mais simples: algumas maiorias se prepotentes não gostam de ser questionadas, postas em causa, criticadas nos seus actos. E quando o são reagem, encurraladas, desta forma. A chamada fuga para a frente.
Quarto: vir a terreiro negar o dito mais parece atitude de ganapo de escolinha confrontado com a nica do pião do colega Zézinho. Para quem tanto investe na máquina da comunicação, deveria ser prioritário gastar uns euros para gravar integralmente as reuniões e mandar o seu conteúdo em cd aos membros do órgão.
Quinto: têm barbas as questiúnculas entre o PSD e o CDS locais. Desta feita extremaram-se frontalmente. Pior seria se tivessem trocado uns murros e pontapés… Por vezes, é salutar assumir certos estados de alma e dizer/ouvir cara a cara o que está farto de ser sabido e criticado pelas costas. A democracia deve ter elevação. Mas é pior faltar-lhe a verdade e sobrar-lhe a arrogância do posso quero e mando.
Sexto: Almeida Henriques centra muita da sua política num culto de imagem. Paga a assessores para lhe promoverem e lhe afagarem o ego inflamado. Logo, Hélder Amaral bateu onde mais dói. É a vida! Nem todos vestem a louvaminheira capa da lambujice. E daí? Lesa-se a majestade do dignitário? As virgens, na política, que há muito deixou de ser dama honrada, ou trazem defeito de origem, ou são uns viragos vesgos e barbudos que até a vista repelem.
Sétimo: uma das estratégias de actuação do on the road show de Almeida Henriques é ter uns prévios incensadores de mirra a aspergir a sua elocutória entrada em cena. Leiam as actas… desta vez, sucedeu o inverso. Não gostou? Paciência! Tenha actos que não suscitem tais atitudes. Tão simples quanto isso.
Oitavo: vá-se Almeida Henriques habituando a ser escrutinado nas decisões tomadas e a ter presente que nem todos comem calados.

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Publicado em Editorial