“Lutar contra a arrogância da ignorância”, Suzana Menezes, Directora Regional da Cultura do Centro

Suzana Menezes, Directora Regional da Cultura do Centro, em entrevista ao Rua Direita

Entrevista Paulo Neto Fotografia Paulo Neto

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  • 21:02 | Segunda-feira, 02 de Março de 2020
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Domingo, primeiro de Março, no decurso da apresentação do vencedor do Prémio Vergílio Ferreira 2019 e da assinatura do protocolo do projecto cultural: “Ler e Partir: Geografias Literárias”, a Rua Direita teve o ensejo de ouvir Suzana Menezes, Directora Regional da Cultura do Centro.

 

O que significa para si este evento, aqui em Gouveia?


Na realidade vamos ter hoje e aqui dois eventos muito relevantes do ponto de vista cultural para a região Centro. Por um lado, a atribuição do Prémio Literário Vergílio Ferreira, que tem vindo a distinguir desde 1997 a criação artística em termos literários. O que não é só relevante do ponto de vista da criação, como também do acesso à criação no sentido em que a existência deste tipo de prémios cria condições para que tenhamos mais leitores, e sobretudo leitores mais informados. Portanto, desse ponto de vista, o município de Gouveia está de parabéns por manter desde 1997 e de uma forma ininterrupta este prémio.

Por outro lado, três municípios juntaram-se, Gouveia, Guarda e Fundão, para criarem uma rede literária que vai pôr em evidência o património literário, artístico, cultural e filosófico de três grandes pensadores portugueses.

Este tipo de redes tem uma função muito específica na promoção dos territórios, do ponto de vista turístico, e são mais relevantes no sentido em que propiciam nas comunidades a abertura a novos mundos, numa perspectiva da reflexão, que é no fundo a grande obrigação da Cultura, a de nos abrir portas e nos permitir lutar contra a arrogância da ignorância.

A constituição deste tipo de redes vem muito ao encontro daquele que é neste momento um dos eixos estratégicos da DRC, até e porque criámos nós próprios uma rede, submetemos essa candidatura no final do ano passado, para reunir diversos escritores que, ou são provenientes da região ou, de alguma forma, escreveram ou debruçaram-se sobre a região.

Acreditamos, de facto, que é através da abertura propiciada pelos livros, através da divulgação daquilo que é o nosso património literário, que preparamos melhor as nossas comunidades para o futuro. Nesse sentido, estes três municípios deram aqui um avanço relativamente à constituição da rede regional literária do Centro, que só temos que felicitar.

 

 

Estamos perante três extraordinários beirões: Eduardo Lourenço, Eugénio de Andrade e Vergílio Ferreira. Dentro da especificidade de cada um, temos um pensador ainda vivo, um poeta e um romancista. De acordo com as suas preferências, para qual deles pendia?

Tenho muita dificuldade em escolher entre qualquer um dos três, porque gosto muito da sua criação literária. O Eduardo Lourenço teve e tem ainda a capacidade de nos ajudar a pensar. A forma absolutamente lúcida como ele tem analisado o mundo em que vivemos, a Europa que temos e aquilo que somos dentro dessa Europa, mantém-se como uma lição permanente para todos nós. Confesso que tenho uma particular admiração pelo pensador, pela sua capacidade sempre acutilante de ver o mundo com um olhar diferenciador. Não menosprezando qualquer um dos outros, o poeta e o romancista que nos deixaram um legado relevante, Eduardo Lourenço mexe com as minhas convicções e daí apreciá-lo mais particularmente.

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