Coleção Automóvel do Museu do Caramulo celebra 70 anos

  A colecção, exposta hoje ao longo de quatro espaços museológicos, reúne marcas seminais como a Bugatti, Rolls-Royce, Delahaye, Mercedes-Benz, Packard, Jaguar, Ferrari, Porsche e Hispano-Suiza, indo do triciclo Cudell De Dion (1898) ao LaFerrari de 2015, privilegiando ainda veículos com forte ligação à história de Portugal.

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  • 17:10 | Terça-feira, 04 de Novembro de 2025
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A colecção de automóveis, motas e bicicletas do Museu do Caramulo celebra, em 2025, o seu 70º aniversário. Iniciada por João de Lacerda (1923–2003), mantém-se como uma das mais notáveis colecções mundiais, não apenas pela raridade e estado de conservação dos veículos, mas também pela forma única como narra a história do automóvel e a relação de Portugal com este símbolo de progresso e liberdade.

 


As origens

O ponto de partida remonta ao encontro, por João de Lacerda, de um Ford T de 1925 em estado de abandono. A aquisição desse veículo, em 1955, marcou o início daquela que viria a ser a mais importante colecção de automóveis antigos do país. Inicialmente pensada para uma vertente pessoal, o crescente interesse do público levou a que se tornasse pública, dando origem ao Museu Automóvel do Caramulo, criado em 1959 no piso térreo do edifício da Fundação Abel de Lacerda, após sugestão do Presidente Américo Thomaz.

Pela primeira vez em Portugal, nascia um museu dedicado exclusivamente ao automóvel, numa época em que apenas uma dezena de instituições semelhantes existia em todo o Mundo. O sucesso da iniciativa justificou a construção de um novo edifício, inaugurado em 1970, concebido para que todos os veículos pudessem sair facilmente para a necessária conservação da mecânica.

 

Rigor e autenticidade como marca distintiva
 
Se considerarmos a mecânica como a alma de um automóvel, podemos também considerar uma arte a sua concepção e funcionamento. Todos os veículos presentes no Museu do Caramulo estão, a cada momento, aptos para se deslocarem com as mesmas características que tinham quando foram criados. O seu perfeito estado de conservação e o rigor com que foram restaurados, fazem funcionar os seus veneráveis e magníficos motores como peças de arte de inestimável valor. É comum verem-se veículos com mais de 100 anos a passearem nas imediações do Caramulo ou em provas nacionais e internacionais de grande prestígio – como o London-Brighton, o Rali de Monte-Carlo e a Louis Vuitton China Run, entre muitas outras. O Caramulo Motorfestival, a Corrida dos Fundadores by Cartrack, o Rider – Passeio de Automóveis e Motos Clássicas e, ainda, a iniciativa O Museu na Rua – eventos dinamizados pelo Museu do Caramulo – são ainda outros pontos de eleição onde a contínua apresentação dos veículos comprova o impecável estado de conservação dos mesmos, o qual merece as mais elogiosas referências nacionais e internacionais.

João de Lacerda, perfeccionista e criterioso, reconstruía meticulosamente cada veículo, defendendo o princípio de que um automóvel que não andasse seria um anacronismo. Com todos os automóveis expostos em perfeito estado de circulação, perdura na actualidade uma tradição corporizada numa colecção dinâmica em constante expansão, que se aproxima dos 200 exemplares, e que inclui no seu espólio – para além dos veículos próprios –, um conjunto ímpar de modelos em depósito, com destaque para a colecção de Emerson Fittipaldi, o bicampeão mundial de Fórmula 1, que escolheu o Museu do Caramulo para albergar o seu exclusivo acervo.

A colecção, exposta hoje ao longo de quatro espaços museológicos, reúne marcas seminais como a Bugatti, Rolls-Royce, Delahaye, Mercedes-Benz, Packard, Jaguar, Ferrari, Porsche e Hispano-Suiza, indo do triciclo Cudell De Dion (1898) ao LaFerrari de 2015, privilegiando ainda veículos com forte ligação à história de Portugal.

Entre os exemplares mais emblemáticos, destacam-se o Benz Dreirad de 1886, considerado o primeiro automóvel do mundo equipado com motor a gasolina; o Bugatti Type 35B, modelo que deu mais de duas mil vitórias à casa de Molsheim; o Mercedes-Benz 770 Grosser blindado e o Cadillac Series 75 que estiveram ao serviço de António de Oliveira Salazar; o Rolls-Royce Phantom III que transportou a Rainha Isabel II, o Presidente Eisenhower e o Papa João Paulo II nas suas visitas a Portugal; o Pegaso Z102 B Touring Berlinetta oferecido pelo General Franco ao Presidente Craveiro Lopes; e, claro, o Chrysler Imperial da PIDE que protagonizou a “Fuga da Prisão de Caxias”.

 

 
Um legado que inspira gerações

Com as suas colecções de arte, automóveis, motos, velocípedes e brinquedos, o Museu do Caramulo – um dos mais antigos museus automóveis do mundo – forma hoje um espaço cultural singular, cuja identidade se baseia na convergência de espaços expositivos em permanente diálogo e evolução.

A visão de João de Lacerda ultrapassou o coleccionismo pessoal: foi ele o verdadeiro impulsionador da preservação do património automóvel em Portugal, inspirando contínuas gerações e moldando de forma permanente um sector, criando e fomentando em paralelo o gosto pelo coleccionismo e pela conservação de um património ímpar.

Através das competições internacionais, dos eventos, e das exposições permanentes e temporárias abertas ao público, o Museu do Caramulo continua, sete décadas depois, a contar a história do automóvel e a inspirar novas gerações de apaixonados pelo universo motorizado, reafirmando-se como uma instituição ao serviço de todos os portugueses.

 

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