Cientistas descobrem novo mecanismo responsável pela disseminação da infeção pela bactéria Salmonella

A infeção provocada por Salmonella ocorre após a ingestão de alimentos contaminados e afeta principalmente o trato digestivo. As pessoas infetadas podem desenvolver enjoos, cólicas, diarreia, febre e vómitos.

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  • 12:36 | Quarta-feira, 09 de Junho de 2021
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Um estudo internacional liderado por investigadores da Universidade de Coimbra (UC) revelou um novo mecanismo de infeção específico da Salmonella. Este mecanismo pode ser importante para o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas para travar infeções causadas por esta bactéria.

A infeção provocada por Salmonella ocorre após a ingestão de alimentos contaminados e afeta principalmente o trato digestivo. As pessoas infetadas podem desenvolver enjoos, cólicas, diarreia, febre e vómitos.

Os resultados da investigação, que contou com a colaboração das Universidades de Würzburg (Alemanha) e de Córdoba (Espanha) e dos Institutos de Ciências Matemáticas e de Homi Bhabha (Índia), acabam de ser publicados na revista Nature Communications.


Geralmente, as células do corpo humano quando são infetadas por vírus ou bactérias comunicam com as células vizinhas saudáveis para orquestrar uma resposta contra a infeção. Neste estudo, os investigadores mostram o efeito oposto: as células infetadas por Salmonella libertam proteínas que facilitam a infeção das células vizinhas. Por esta razão, foi necessário avaliar e identificar “moléculas-chave” envolvidas no processo de infeção e disseminação, para melhor compreender onde atuar para impedir a infeção.

Em particular, os investigadores identificaram uma proteína, a E2F1, que se encontra diminuída durante a infeção por Salmonella, quer nas células do hospedeiro, que estão infetadas com a bactéria, quer nas células vizinhas. A diminuição da proteína E2F1 leva à desregulação da expressão de moléculas envolvidas no controlo da interação bactéria-hospedeiro, particularmente microRNAs (pequenas sequências de ARN não-codificantes), o que por sua vez promove a multiplicação da bactéria nas células infetadas.

Adicionalmente, descobriram que as células inicialmente infetadas libertam moléculas para o espaço extracelular (fora das células), em particular a proteína HMGB1, que ativa as células vizinhas tornando-as mais recetivas à infeção por Salmonella. Segundo a líder do estudo, Ana Eulálio, investigadora do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNC) e docente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), «trata-se de um novo mecanismo que aumenta o nosso conhecimento sobre as interações complexas estabelecidas entre as nossas células e os microrganismos, neste caso a bactéria Salmonella».

A grande novidade associada a este trabalho, explica, é o facto de, «contrariamente ao paradigma existente, termos descoberto que a Salmonella, para além de manipular as células humanas infetadas, modifica também as células vizinhas não infetadas no sentido de aumentar a sua suscetibilidade à infeção e, desta forma, facilitar a disseminação da bactéria».

Os resultados agora publicados foram obtidos através de estudos em células e em modelos animais, com o auxílio de ferramentas de bioinformática e de biologia celular e molecular. Estes dados podem vir a desempenhar um papel crucial no impedimento da progressão da infeção por esta bactéria. Miguel Mano, investigador do CNC e docente da FCTUC, e também autor do estudo, esclarece que «o conhecimento dos mecanismos moleculares explorados pela Salmonella pode possibilitar o desenvolvimento de estratégias terapêuticas capazes de bloquear a disseminação da infeção».

 

 

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