Cientistas da UC desenvolvem ferramenta inovadora para combater um dos cancros pediátricos mais comuns

O osteossarcoma é um tipo de cancro que apresenta grande propensão para a metastização pulmonar, acreditando-se que a maioria dos doentes já tem micrometástases na altura do diagnóstico clínico, que depois progridem para metástases pulmonares, sendo esta a sua principal causa de morte, pelo facto de as terapias convencionais apresentarem uma eficácia limitada.

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  • 13:59 | Quinta-feira, 07 de Janeiro de 2021
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Uma equipa de cientistas da Universidade de Coimbra (UC) está a desenvolver uma ferramenta inovadora de teranóstica – técnica que junta diagnóstico e terapêutica – dirigida às micrometástases pulmonares no osteossarcoma, um tumor ósseo muito agressivo que afeta particularmente crianças e adolescentes.

O osteossarcoma é um tipo de cancro que apresenta grande propensão para a metastização pulmonar, acreditando-se que a maioria dos doentes já tem micrometástases na altura do diagnóstico clínico, que depois progridem para metástases pulmonares, sendo esta a sua principal causa de morte, pelo facto de as terapias convencionais apresentarem uma eficácia limitada.

Por isso, «é urgente um diagnóstico mais precoce e novas estratégias terapêuticas capazes de eliminar estas pequenas lesões e travar a sua progressão», afirma Célia Gomes, do Instituto de Investigação Clínica e Biomédica de Coimbra (iCBR), da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), que lidera o estudo, em parceria com Antero Abrunhosa, do Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde (ICNAS).


O projeto, distinguindo recentemente pela Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) e Lions Portugal, conta agora com 250 mil euros de financiamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), e foca-se numa abordagem que tira partido do conhecimento atual sobre o papel dos exossomas na formação de metástases e dos avanços nas tecnologias de imagem e de terapêutica baseadas em radionuclídeos (utilizadas na medicina nuclear) que se têm revelado bastante eficazes no tratamento de doenças oncológicas.

Facilmente isolados a partir de amostras biológicas (ex. sangue ou urina) e manipulados em termos do seu conteúdo e composição membranar, os exossomas podem ser administrados num organismo como veículos de entrega de moléculas (ex. agentes terapêuticos) para órgãos-alvo. Esta funcionalidade confere-lhes um elevado potencial diagnóstico e terapêutico.

Nesse sentido, a equipa pretende usar «exossomas derivados de células metastáticas, e “marcá-los” com um metal radioativo emissor de positrões (cobre-64, 64Cu) para diagnóstico de micrometástases por tomografia por emissão de positrões (PET) num modelo animal em ratinho. Para tal, vai ser usado um tomógrafo PET de alta sensibilidade desenvolvido no ICNAS».

Para este estudo, os cientistas desenvolveram um modelo animal que reproduz as diferentes fases da evolução da doença metastática, desde a preparação do nicho pré-metastático no pulmão até à formação das micrometástases. As experiências já realizadas, revela Célia Gomes, permitiram demonstrar que «os exossomas libertados pelas células do tumor primário (osteossarcoma) induzem alterações no tecido pulmonar que favorecem o desenvolvimento das micrometástases. Comprovámos ainda a afinidade dos exossomas pelas lesões metastáticas, e a capacidade de entrega do seu conteúdo, o que substancia o grande propósito do nosso projeto: utilização dos exossomas como eficientes veículos de entrega de radionuclídeos com especificidade para células-alvo».

O financiamento atribuído pela FCT vai permitir explorar a potencialidade dos exossomas como agentes de terapêutica «através da sua funcionalização com radionuclídeos emissores beta- já aprovados para uso clínico, como por exemplo o Lutécio-177, que tem uma penetração máxima nos tecidos de aproximadamente 2mm, adequado para o tratamento de micrometástases, podendo representar uma nova opção terapêutica e com grande probabilidade de uma resposta eficaz», explicita a investigadora do iCBR/FMUC.

«Iremos também avaliar em contexto clínico se os exossomas podem ser utilizados, de forma não invasiva, como biomarcadores de risco ou de progressão da doença metastática», acrescenta.

Ao longo dos três anos de duração do projeto, realizado em colaboração com a Unidade de Tumores do Aparelho Locomotor do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), vão ser isolados exossomas de amostras de sangue de doentes com osteossarcoma, tendo em vista uma «caraterização em larga escala do seu conteúdo molecular e identificação de uma assinatura molecular preditiva do risco de doença metastática, cada vez mais importante para o prognóstico e para uma decisão terapêutica mais adequada», afirma a investigadora.

A abordagem proposta neste projeto, finaliza Célia Gomes, «representa um avanço nas aplicações biomédicas dos exossomas e pode servir de base para a exploração dos exossomas como plataformas de teranóstica para o osteossarcoma e outras neoplasias metastáticas, abrindo caminho à medicina de precisão».

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