Luís Montenegro tem vindo muito paulatinamente a dizer ao que vem com o seu Governo.
Flagrantemente e sem grandes dúvidas, as pastas da Saúde e do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, lideradas respectivamente por Ana Paula Martins e Maria do Rosário Costa Ramalho, de mangas arregaçadas, são aquelas que, em nome da invocada necessidade de reformar, mais controvérsias têm gerado e mais vítimas têm criado.
A ministra da Saúde parece não acertar com uma medida que seja. Cronicamente errática, de contradição em contradição, ziguezagueante, semeou o caos em todos os serviços sob a sua alçada e conseguiu levar a área tutelada ao total estado de descrédito.
Rosário Costa Ramalho, mulher do Costa Ramalho ex-Novo Banco, e mãe de Inês Costa Ramalho, vice-presidente da Comissão Política do PSD, elogiada e gabada pelos empresários portugueses – não há um único que a critique – apresenta uma reforma das Leis Laborais que almejou pôr em pé de guerra todas as centrais sindicais, a UGT (afecta ao PSD, inclusive).
Reacções que levaram o primeiro-ministro a ficar muito espantado e “perplexo” com o que alega ser uma instrumentalização dos sindicatos por parte do PCP e do PS, esquecendo que a UGT, que aderiu à greve geral, é comandada por Lucinda Dâmaso, que integra a comissão política nacional permanente do PSD.
Montenegro “não consegue vislumbrar nem compreender” o porquê dos trabalhadores estarem em pé de guerra. Mas compreenderá o porquê do patronato estar jubiloso e aplacado. E é a partir dessas constatações que acorre aos microfones e câmaras da solícita comunicação social, com ar galhofeiro (nunca escreveria cínico) a desdobrar-se em apartes de incompreendido e talvez até de Calimero, fato que muito bem vestem outros membros deste XXIV Governo.
Até o líder do grupo parlamentar do PSD, na toada da contra-maré, com desmemória, perfídia ou ignorância oportunista veio reiterar a sua indignação afirmando “que as greves gerais acontecem sempre que os governos não são de esquerda”, esquecendo as três greves gerais que ocorreram no governo socialista, com o então primeiro-ministro José Sócrates. Mostrou assim que a mentira é um pormenor que não o inquieta nem perturba, antes sendo, no bom estilo de Ventura, adereço de muita despudorada conveniência.
E como se não bastasse, com o IRC a baixar para 19% em 2026 e até 17% em 2028. O IRC é o imposto que incide sobre os rendimentos das empresas, que consoladas agradecem, mais essa atençãozinha
Entretanto, a CIP (Confederação Empresarial de Portugal) aproveita o balanço e muito agastada vem corroborar o primeiro-ministro e garantir que a greve geral é “infundada”, acrescentando não haver espaço para a “chantagem” e concluindo que os “Sindicatos estão a confundir a sua existência com os interesses dos trabalhadores”, mais propondo, segundo noticia o Expresso a “possibilidade de redução de salário em negociação com o trabalhador”, defendendo que as faltas, mesmo justificadas, não devem ser pagas”.