Um ar doente…

Um tempo que nunca esperávamos viver, julgando as pestes, que ao longo dos séculos assolaram o mundo, doenças de um passado eivado de mitos e crendices, quando os remédios saltavam das ervas mágicas dos campos para mãos de curandeiras e bruxas, senhoras do secreto conhecimento guardado na maçã que Eva trincou.

  • 11:59 | Sábado, 31 de Outubro de 2020
  • Ler em < 1

Vivemos dias que não são comuns. Na verdade cada dia é diferente do outro e cada um deles único. Porém, vivemos dias estranhos, num tempo estranho que nos tomou de assalto, um tempo cinzento mesmo com dias de sol.

Um tempo que nunca esperávamos viver, julgando as pestes, que ao longo dos séculos assolaram o mundo, doenças de um passado eivado de mitos e crendices, quando os remédios saltavam das ervas mágicas dos campos para mãos de curandeiras e bruxas, senhoras do secreto conhecimento guardado na maçã que Eva trincou.

E o tempo cinzento e triste, mesmo quando o sol não deixa de brilhar, trouxe-nos imagens e recordações indirectas de há 100 anos. No estertor da primeira grande guerra, que no século XX abalou o mundo, a nova peste – de seu nome pneumónica mas também gripe espanhola -, dizimou mais gente que a tombada nos campos de batalha e dilacerada pelas bombas descarregadas sobre campos e cidades.

Nas pestes, os rostos eram tapados, para que o bafo de uns não conspurcasse o ar de todos, mas era um ar já doente. E se os rostos eram velados, os corpos distanciavam-se, ficando longe o afago e o beijo. Restava, então, o sorriso triste de olhos que nunca deixaram de faiscar …


Tempos estranhos estes em que temos de reinventar a vida, como outros, antes de nós, a re-imaginaram…

 

 

Gosto do artigo
Palavras-chave
Publicado por
Publicado em Opinião