Tempo de vindimas

Muitas destas mulheres só saíam da aldeia para irem para as vindimas e duas vezes no ano à feira de Moimenta, uma na época do Natal e outra da Páscoa, por isto e muito mais, ninguém partia triste, os sorrisos estampados no resto revelavam o prazer da aventura e a ânsia de conhecer outras gentes e outros locais. As que as viam partir acenavam um adeus tímido que revelava a vontade de ir.

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  • 22:27 | Terça-feira, 23 de Abril de 2024
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Na Nave não há vinhas, mas as mulheres alvitanas sempre participaram activamente nas vindimas, tarefa que lhes permitia amealhar uns trocados para uma blusa ou uma saia nova e ainda dar uma ajudinha na economia familiar.

Nos princípios de Setembro as rogadoras começam a escolher e a convidar aquelas mulheres que queriam levar no seu grupo. Algumas já estavam comprometidas desde o ano anterior. Havia vários grupos que eram conhecidos pelo nome da terra para onde iam vindimar: as de Valdigem, as do Pinhão, as de Paradela e claro que havia grupos mais pretendidos uns do que os outros e isso tinha a ver com a rogadora, que era sempre uma mulher de Alvite e que tinha privilégios, com o feitor, homem da quinta e que comandava o grupo e também com as condições oferecidas, nomeadamente, o tipo de comida e o alojamento.

Normalmente estes grupos partiam ao domingo, no final da tarde, numa camioneta de caixa aberta, sentadas no chão da carroçaria ou em banquinhos que elas próprias levavam. A camioneta parava sempre num dos largos da aldeia e era ver chegar de todos os caminhos as mulheres com os cestos e os cabazes à cabeça, onde impecavelmente colocavam os pertencem que iam utilizar durante a sua estadia na quinta que poderia ser de quinze dias, três semanas ou mais.

Todas elas se faziam acompanhar de um canivete bem afiado que seria utilizado para cortar os cachos e também a côdea de pão que era servida como merenda.


Havia algumas que tinham tanta vontade de partir que eram as primeiras a subir para a camioneta, talvez para terem um pouco de paz de uma vida familiar em que o álcool e a violência doméstica faziam parte do dia a dia.

Muitas destas mulheres só saíam da aldeia para irem para as vindimas e duas vezes no ano à feira de Moimenta, uma na época do Natal e outra da Páscoa, por isto e muito mais, ninguém partia triste, os sorrisos estampados no resto revelavam o prazer da aventura e a ânsia de conhecer outras gentes e outros locais. As que as viam partir acenavam um adeus tímido que revelava a vontade de ir.

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Publicado em Opinião