CAPÍTULO LVI
Cá estamos, prontinhos para maquinar os cálculos e verificar se há alguma razão para outro castigo, que nos vai obrigar a continuar neste purgatório que é a fatura da água.
Sabemos que a rede de saneamento não chega a todos os lares, nem nunca chegará, num território tão disperso como o nosso. Mas nada justifica que, por exemplo, na cidade de Tondela ainda haja habitações sem acesso à rede de esgotos. Que vantagem lhes trouxe a constituição da AINTAR?
Dessas habitações, algumas gastam água da rede, mas nem vamos entrar nessas contas dos que gastam água e não lançam efluentes por igual volume. Talvez contaminem os solos, mas os gestores locais não cansam a sua beleza com isso!
Há quem procure estar de bem com Deus e com o Diabo, seguindo por um único caminho, mesmo na certeza que está a errar. É o que temos …
Quem vive num apartamento e tem meia dúzia de plantas envasadas, que lava roupa e o chão, molhados que secam, água que se evapora. Quem vive numa casa isolada, com vasos e um pequeno terrado com plantas, lavam, esfregam, consomem água que se evapora. Quem tem uma casa, envolta de um grande jardim, com piscina, certamente que tem um poço que lhes fornece água para todas as suas necessidades. Não paga, ou pouco paga de consumo de água e, por mais efluentes que injete na rede, paga apenas o valor mínimo. Todos os outros pagam o saneamento na mesma medida dos consumos de água. Porque tem de ser assim, se hoje é possível medir os caudais de efluentes? OU calcular com maior justiça?
A tese dos governantes, que mandam nesta “coisa”, é: “se eles (nós) já estão habituados a pagar (pela água), se baixar o preço, nem irão sentir o aumento do saneamento”.
É a esperteza saloia a enviesar a teoria dos vasos comunicantes … e é assim que nos levam. Só que, agora que sabemos ter razão, só ficaremos calados se formos cobardes. Se assim for, seremos ladrões, ladrões de nós próprios, diminuídos dos nossos direitos. Mas há quem goste!
Pagamos IMI e IMT, receitas diretas dos municípios. Para que servem?
Pagamos IRS e pagamos IVA, cuja receita é, em parte, distribuída aos municípios. Para que serve?
As nossas contas estão à vista, embora se admita que 50% seja um número a corrigir, mas nem uma atenção merecemos? No mínimo, a AINTAR, se tivesse algum respeito por quem paga a sua estrutura, tinha obrigação de aceitar a recomendação da ERSAR – “o volume de águas residuais a faturar é de 90% do volume de água consumido”.
Já agora, verifiquem as vossas faturas … e em vez de reclamarmos do árbitro que terá prejudicado o nosso clube, ou que o argumento da novela traiu as nossas expetativas, reclamemos dos nossos direitos! …
(CONTINUA)