Rio quer ser, de novo, alcaide do Porto

A função de Presidente de Câmara, quando não exercida por gente bem formada, revela o que de pior existe no ser humano. O despotismo que resulta, em muitas circunstâncias do poder único dos presidentes municipais, tem sido uma das razões para o progressivo descrédito do poder local e tem criado graves problemas à democracia de base.

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  • 19:43 | Domingo, 22 de Maio de 2022
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Rio perdeu as eleições para Costa e vai perder o lugar de presidente do PSD. Mas Rio não decidiu abandonar a política e vai precisar de um posto para continuar a sua luta contra o vento.

Estes cinco anos que Rui Rio leva de presidente do Partido Social Democrata demonstraram duas coisas simples: 1) é um político profundamente autoritário e centralizador; 2) nunca se dá por derrotado.

Até ao último momento da sua liderança, Rio não desistiu de fazer seguir as suas opiniões e obsessões. Querer antecipar o processo de Revisão Constitucional, numa altura em que o seu partido se prepara para escolher o seu sucessor, é a prova de que não desarma, mesmo quando quase todos acham que há muito deveria ter desarmado.


Três vezes candidato a presidente do seu partido, três vezes sujeito a oposições fortes, Rio saiu sempre com o novo fôlego, avançou sempre até se confirmar que o seu modelo mental e a sua visão de país não eram os mais adequados a cada tempo eleitoral vivido.

A forma como transformou o seu partido numa seita, ao limpar tudo o que poderia não lhe dizer que sim, demonstrou, por fim, a sua vertente tirana, vertente que desenvolveu enquanto autarca.

A função de Presidente de Câmara, quando não exercida por gente bem formada, revela o que de pior existe no ser humano. O despotismo que resulta, em muitas circunstâncias do poder único dos presidentes municipais, tem sido uma das razões para o progressivo descrédito do poder local e tem criado graves problemas à democracia de base.

Rio perdeu as eleições para Costa e vai perder o lugar de presidente do PSD. Mas Rio não decidiu abandonar a política e vai precisar de um posto para continuar a sua luta contra o vento.

Olhando os sinais desta sua difícil saída da São Caetano, a forma como, não sendo recandidato a líder, não deixa de influenciar e até menorizar os dois candidatos que se defrontam, leva-nos a vislumbrar uma candidatura à Câmara do Porto em 2025.

Nessa altura Rui Moreira deixará o lugar. E deixará sem que possa implicar as decisões dos partidos de direita. O poder é assim, quer a IL, que detém uma importante junta de freguesia, quer o CDS que continuou, depois de Rio, a partilhar a gestão, não quererão ser responsáveis pela divisão neste espaço político.

Rio continua a ter no Porto uma notoriedade única que lhe pode dar mais um voto do que ao candidato do PS e, assim, ser, de novo, o titular da cadeira da Praça Humberto Delgado.

Mas o novo presidente do PSD quererá Rio como voz do Norte? Os lideres partidários o que querem é somar câmaras e quer Montenegro quer Moreira da Silva militarão pela solução. Tenho para mim, que Montenegro tudo fará para que a Rio se junte Meneses como candidato à Assembleia Municipal.

Perante este cenário como deve reagir o PS? De forma muito simples – uma única candidatura à esquerda com o Bloco, o PCP e o PAN.

Conhecendo-se a realidade do PS/Porto, o envelhecimento da sua militância, o seu afastamento dos meios mais influentes e dinâmicos da cidade, têm os socialistas figuras relevantes para liderarem esse movimento progressista?

A minha resposta é positiva. E mais, indico seis personalidades que poderão fazer bem esse caminho.

Num primeiro grupo estão os autarcas dos concelhos vizinhos. Luísa Salgueiro é hoje uma figura central na política nacional e o PS poderia candidatar a Matosinhos Eduardo Pinheiro; Eduardo Vítor, o respeitado autarca de Gaia, poderia ser outra escolha deixando a câmara a João Paulo Correia.

Num segundo grupo os políticos nacionais. José Luís Carneiro, Manuel Pizarro e Matos Fernandes estão em condições de protagonizar a alternativa. Porém, o primeiro não poderá sair do governo pela pasta importante que assumiu e em que importa uma revolução ponderada e lenta. Os outros dois serão mais úteis o PS no segundo tempo do Governo, no pós-pandemia e no pós-guerra. Pizarro daria um excelente Ministro da Defesa e Matos Fernandes poderia regressar para corrigir as falhas presentes no Desenvolvimento Regional.

No terceiro grupo só há um candidato. Aposto que será ele a liderar a alternativa. Tiago Barbosa Ribeiro não teve um resultado brilhante nas últimas eleições, mas quem teria depois da trapalhada a que se assistiu?

Tiago terá três anos para fazer o seu trabalho autárquico, para construir a alternativa e para a bloquear. Terá com ele todos os que acham que a “geringonça” não foi um  momento e que se poderá repetir e ampliar no futuro. Terá a vantagem de ser da geração de Duarte Cordeiro, candidato à Câmara de Lisboa também numa coligação alternativa. Terá a vantagem de terem passado mais quatro anos sobre o tempo da influência dos passadistas.

Tiago Barbosa Ribeiro tem, porém, muito a limar. A sua timidez, a sua desordenada forma de trabalhar, a sua autossatisfação ideológica, a sua visão aparelhística, tudo isto vai dar trabalho, vai ser duro. Mas consegue-se.

Independentemente de tudo o que venha a acontecer, Rui Rio pode constatar que o PS lhe dará luta e que, com juízo (que muitas vezes falta na Rua de Santa Isabel), lhe dará a corrida definitiva da política portuguesa.

 

(Foto DR)

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