Pertenço a essa raça de agarrados

“Já leste os últimos livros que compraste?”; “Mais um exemplar para ocupar o espaço que não temos?”; “Algum dia vais ler esse e todos os outros que tens em casa?”, são questões e chamadas de atenção habituais. “Isso é uma doença”, uma sentença dura de escutar, difícil de contrariar e que talvez tenhamos que, até certo ponto, aceitar. Sim, os livros são um vício.

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  • 11:05 | Segunda-feira, 21 de Novembro de 2022
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Os argumentos nunca são demais para justificarmos, aos que nos são próximos, a compra de mais livros. Deitamos a mão a todos os argumentos que consideramos válidos, uns bastante plausíveis outros nem tanto, para explicar o impulso que nos leva a uma livraria ou a adicionar mais uma obra ao cesto de uma loja online, em linha com o turboconsumismo vigente.

“Já leste os últimos livros que compraste?”; “Mais um exemplar para ocupar o espaço que não temos?”; “Algum dia vais ler esse e todos os outros que tens em casa?”, são questões e chamadas de atenção habituais. “Isso é uma doença”, uma sentença dura de escutar, difícil de contrariar e que talvez tenhamos que, até certo ponto, aceitar. Sim, os livros são um vício.

Estamos sempre à procura de quem faça parte da tribo e nos entenda. O escritor e editor Manuel Alberto Valente, na sua coluna “O outro lado dos livros” (Revista E, Expresso, 11/11/2022) “abre o livro” e fornece argumentos que poderemos usar nas próximas compras: “a «função» de um livro não é apenas ser lido (…) há outro tipo de leitores, os que se agarram aos livros como os drogados aos narcóticos. Podem não ler determinado livro, mas sabem que ele está ali, à mão de semear, para ser lido ou consultado face a uma situação imprevista. Pertenço a essa raça de agarrados.”


Olho em frente e reparo que estão na prateleira dois livros ainda com o plástico. Por impulso, levanto-me e liberto-os, folheio-os e delicio-me com as belas pinturas de Egon Schiele e El Bosco, dois belos exemplares que integram a coleção do 40.º aniversário da TASCHEN. Uma coleção acessível, de grande qualidade e altamente recomendável.

Libertei-os e senti-lhes o cheiro. Hoje, não posso frui-los plenamente. Tenho esperança que, como disse Umberto Eco, os livros durante a noite entrem em nós por osmose e, como acredita Manuel Valente, “durante essas horas de silêncio, os livros conversam entre si e contam mutuamente as respetivas histórias e se transformam. É que é por isso que quando se lê um livro 20 anos depois, ele já não é o mesmo da primeira leitura.”  

Algum “agarrado” dos livros se imagina em Milão a visitar a exposição “Professione Fotografo” do fotógrafo Oliviero Toscani, no Palazzo Real, e não comprar a obra que nos permite entrar na sua mente?  “Os amantes dos livros são assim.”

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Publicado em Opinião