Passeios e quedas no veraneio em Forest

Saudosa do pai querido, que tão pouco ia já viver, Maria vê-o ainda, à distância de meio século, a mostrar-lhe os bichos que encontravam no campo, impedindo-os, a ela e aos irmãos, «de lhes fazer mal»; a explicar-lhe «coisas complicadas, ou admirando as nossas habilidades em bicicleta, ou tirando fotografias».

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  • 14:24 | Sábado, 06 de Novembro de 2021
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A bicicleta que os Queirós compraram por volta de 1898 foi levada para Forest, no Seine-et-Marne, em Agosto do ano seguinte, quando a família ali estanciou. «Em Forest», escreve Maria, «tínhamos uma casa cómoda, sem luxo nem pretensões, metida num jardim. Aí andávamos à solta todo o dia, e como tínhamos trazido a nossa bicicleta, dávamos alguns passeios. Havia também perto um bosque, onde variávamos os jogos.»

Saudosa do pai querido, que tão pouco ia já viver, Maria vê-o ainda, à distância de meio século, a mostrar-lhe os bichos que encontravam no campo, impedindo-os, a ela e aos irmãos, «de lhes fazer mal»; a explicar-lhe «coisas complicadas, ou admirando as nossas habilidades em bicicleta, ou tirando fotografias». Estando longe da sua sala de trabalho, sentava-se no jardim, a rever provas tipográficas.

O entusiasmo pela bicicleta não se propagou, ao que sei, a Eça de Queirós. Enfraquecido pela doença, a possibilidade de aprender a andar de bicicleta aos 52 anos era imprudente e inverosímil. Mas não para a esposa, Emília. Os resultados foram resumidos pela filha Maria, nossa guia, em 1946: «Tivemos a ideia infeliz de ensinar a nossa Mãe a andar de bicicleta, e ela magoou-se seriamente num pé, o que a obrigou à imobilidade durante quase toda a nossa estada em Forest.»

Não sei se foi aqui que Eça de Queirós, com a sua larguíssima e genial liberdade literária, imaginou a queda da madame de Todelle no velocípede do padre Ernesto.


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