Paga e Não Bufes

O país é inclinado, cada vez mais inclinado, acentuadamente litoralizado e concentrado. Tudo resultado de acções concertadas que a isso levam. Só o discurso, de engodo permanente é que não é coerente.

  • 16:14 | Sexta-feira, 08 de Fevereiro de 2019
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A Ascendi, antes de ser vendida por quase 700 milhões de euros a uns franceses, dava cerca de 20 milhões de lucros anualmente. Dinheiro que saía dos bolsos dos que, sem alternativa, se deslocavam nas “suas” (não houve igualmente dinheiros públicos a pagar IPs e AEs que são o substrato?) auto-estradas. Auto-estradas caras. A A25, por exemplo, é a AE com o quilómetro mais caro em Portugal e, calculo eu, deve ser a que gera mais lucro/km. A 23 e A24 devem (não tenho a certeza) seguir-lhe o exemplo de perto.

Recentemente o nosso Parlamento aprovou apoios de 300 milhões de euros para subsidiar os passes de transporte público. Transporte público que só existe realmente em Lisboa e Porto. Como assim é, 85% desse valor acabou nas áreas metropolitanas dessas cidades.

Hoje o mesmo Parlamento chumbou as eliminação das portagens na A23, A24 e A25. Eu, que até entendo isso, não entendo é como é que se podem permitir lucros obscenos à custa de quem não tem alternativas nem subsídios (a talho de foice gostaria de saber as razões invocadas – preferencialmente em declaração de voto – pelos 7 deputados eleitos por Viseu para serem contra esta abolição e se propõem alternativas). Só não entendo como é que estas auto-estradas são das mais caras. As mais caras em regiões sem transportes públicos e, pior ainda, sem estradas nacionais que sirvam de alternativas. Quem tem menos alternativas tem, portanto, de sustentar lucros a privados que vampirizaram dinheiro público.


Ou assumimos que é essa mesma falta de alternativa que permite, com a complacência e até o beneplácito de quem legisla e executa, que a oferta disponível seja vendida ao preço que bem entendem? Entendemos que a coisa é montada propositadamente para que alguns grupos económicos tenham a estrada e o passe na mão e que façam deles instrumento de lucro à custa da coesão territorial, desenvolvimento económico e social, e da geografia física e humana de grande parte do território do país?

O país é inclinado, cada vez mais inclinado, acentuadamente litoralizado e concentrado. Tudo resultado de acções concertadas que a isso levam. Só o discurso, de engodo permanente é que não é coerente. Mude-se o discurso. Sejamos todos muito mais honestos.

Post scriptum: Ao que parece alguma comunicação social que referiu que o “PS tinha votado contra e o PSD e CDS se abstiveram”, não foi totalmente correcta e clara. Pelo menos a deputada Lúcia Silva votou favoravelmente pela abolição destas portagens. Menos mal.

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Publicado em Opinião