Os chefes tribais

Nesta linha, estou, convictamente, incluído nos 63%. Antes um líder autoritário que um populista. Portugal é um regabofe, uma pilantragem, está transformado numa feira de vaidades, frequentado por agentes políticos e financeiros, absolutamente inimputáveis. O país deu gás a chefes tribais, a sobas, mas está órfão de estadistas. Já os teve, mas morreram. Ninguém sobrevive muito tempo a este faz de conta que anda, mas não se mexe.

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  • 17:54 | Quarta-feira, 16 de Junho de 2021
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Um estudo da Fundação Gulbenkian refere que só 37% dos portugueses rejeitam um líder autoritário, cerca de 1/3, portanto.

Os restantes 2/3 não são tenebrosos fascistas ou perigosos reaccionários. São os que têm vergonha de, após rios de dinheiro europeus terem desaguado em Portugal, continuarmos a ser dos países mais pobres da UE, os que estão fartos da ausência de um desígnio nacional, de uma estratégia reformista, da pouca competitividade da economia, da reduzida modernização da indústria nacional, da inclinação do país para o litoral, do desinvestimento no interior, do desinteresse por políticas sustentáveis, da rejeição de um novo sistema eleitoral, das gorduras do Estado, da mediocridade de muita da classe política, recrutada nas jotas ou no ambiente familiar, dos diplomados sem futuro, dos empregos precários, da crónica dependência do Estado, empregador e amante, pau para toda a colher. São os que se fartaram da corrupção, da justiça lenta, do direito excessivamente garantístico, dos lóbis venenosos e invisíveis, dos cargos à medida, da falta de incentivos à iniciativa privada, dos perdões fiscais aos tubarões, sempre beneficiados, das injecções escandalosas na banca, da carga fiscal excessiva que complica o empreendedorismo, da acumulação de cargos principescamente remunerados, da promiscuidade vergonhosa de políticos e escritórios de advogados, de “outsourcings” convenientes, que dão a ganhar a todos.

Um líder autoritário não significa ditadura. Ditadura, não, já bastaram mais de 4 dezenas de anos. Mas é preciso que apareça quem dê um murro na mesa, que mostre o lixo e que não o esconda, que tenha uma ideia mobilizadora para o país, que pense Portugal no contexto europeu e atlantista, que renove a agricultura, que recupere a indústria naval e pesqueira, que reponha a ferrovia, que tenha um projecto imune aos ciclos eleitorais, que, reunindo-se dos meios legais, faça impor o programa sufragado em eleições livres. Que tenha uma integridade à prova de bala, que corte a direito, que não tenha medo da comunicação social, que escolha os melhores com tarimba na vida real, e não o cônjuge, o filho, a nora, o primo da nora, o cão do sobrinho, como fez o tipo truculento dos Açores. Que, se for preciso, puxe dos galões e mostre quem manda. Autoridade não significa chicote nem ditadura. Só quer dizer regra, disciplina, exemplo, determinação, coragem. E, se quem interpretar essa autoridade, tiver carisma, íman, magnetismo, tanto melhor.

Nesta linha, estou, convictamente, incluído nos 63%. Antes um líder autoritário que um populista. Portugal é um regabofe, uma pilantragem, está transformado numa feira de vaidades, frequentado por agentes políticos e financeiros, absolutamente inimputáveis. O país deu gás a chefes tribais, a sobas, mas está órfão de estadistas. Já os teve, mas morreram. Ninguém sobrevive muito tempo a este faz de conta que anda, mas não se mexe.


Mete verdadeiramente impressão e abala a saúde mental de qualquer um quando se olha para o país que somos, sabendo o desperdício dos milhões que recebemos e que nos fariam mais desenvolvidos, mais competitivos, melhores.

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Publicado em Opinião