O tempo dos gaviões

Rui Rio foi o encerrador deste Movimento Europa e Liberdade (?) e quando se esperava a epifania dos desideratos da organização, numa intervenção de 46 minutos, num improviso clarividente, foi mestre e magíster na verdadeira acepção do termo, não se deixando resvalar na sua crítica, por vezes contundente, para o facilitismo populista dos que falam aos berros e por chavões.

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  • 22:33 | Quarta-feira, 26 de Maio de 2021
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Acabou às 20H46 minutos o congresso das direitas portuguesas. Foram dois dias de “berloquices”.

Não ouvi todas as intervenções, mas sim as mais importantes e das outras apanhei resumos, sempre redutores, é certo, mas o possível, consubstanciado pelas facundas “meltalks” sucedâneas.

A abrangência do evento foi até consubstanciada por alguns “socialistas de direita” que lá foram orar, com um ar brando e cândido, de sacristães, dando o magno e enjoado contributo.


O líder do CDS-PP, Francisco Santos, talvez pela sua “verdura” nada acrescentou de substantivo. Deixou-se ir no “foguetório” de circunstância. Bem esteve o seu “pai” político, Paulo Portas, como sempre astuto e hábil na leitura das “estrelas”.

Ventura, estrídulo como sempre – aquele homem deve tomar muitas pastilhas para a garganta – no entendimento que é aos berros que arrebata as multidões, foi pateticamente igual a si mesmo no seu egocentrismo deslumbrado, ciente de ser a messiânica salvação de Portugal. “Avant moi, le déluge, après moi le déluge…”. É Noé, a bordo da barca ancha com os seus saudosistas apaniguados, num clamor estrepitoso de louvação.

Rui Rio foi o “encerrador” deste Movimento Europa e Liberdade (?) e quando se esperava a epifania dos desideratos da organização, numa intervenção de 46 minutos, num improviso clarividente, foi mestre e magíster na verdadeira acepção do termo, não se deixando resvalar na sua crítica, por vezes contundente, para o facilitismo populista dos que falam aos berros e por chavões.

Analítico, racional, inteligente, fez uma análise económica e política destes 47 anos de democracia, das suas falhas, dos seus erros, das reformas a fazer, daquilo que há a implementar para resolver as galopantes e temíveis fragilidades da economia, da reforma política, da justiça…

Falou de improviso e deixou, preto no branco, os números que a todos nós, conscientes, deveriam causar calafrios. O remate foi irreverente… quando esperariam, os promotores da coisa, que anunciasse publicamente o seu concubinato com Ventura, cingiu-se a um facto relevante: Nesse dia tomou a vacina e estava a sentir-se muito bem.

Assim, tão bem, não se terão sentido os presentes “aplaudidores” entusiastas de Ventura. É a vida…

Espectral, Passos Coelho esteve presente nos dois dias. Mostrou a sua afabilidade a Ventura – uma criação sua – e foi dizer, com actos, como Santana, que “andava por aí”. Sim, anda por aí a pairar, sebastiânico, à espera do momento, como um gavião, de saltar na sua presa. A presa, que abraçou ao de leve, à saída, na saudação da praxe, garras recolhidas, por agora, pois ainda não é o momento de picar o voo…

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Publicado em Opinião