O simbolismo

O segundo ponto infeliz veio de Montenegro. Se o PM  quer contar com o PS, não pode zurzir no maior partido da oposição, logo que inicia funções. Com isso, pode alimentar a caserna ululante, mas deslustra a formatura que reclama decência. Pode dar um sinal de vigor, mesmo prematuro, mas pode estilhaçar o breve estado de graça. Não precisava de tanto na tomada de posse. Foram alfinetadas a mais. Ficou-lhe mal. Não tem força para ser arrogante.

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  • 16:40 | Segunda-feira, 08 de Abril de 2024
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Da semana que passou, retenho três factos que considero de alguma importância, no domínio do simbólico.

A presença positiva de quatro viseenses no XXIV Governo Constitucional, dois ministros e dois secretários de Estado, a saber, António Leitão Amaro, na Presidência, e Dalila Rodrigues, na Cultura, José Cesário, nas Comunidades Portuguesas, e Rui Ladeira, nas Florestas. Não entra nestas contas, Isabel Domingos, nos Assuntos Europeus, e que, imposta por Montenegro, nada tem que a ligue a este território.

Vindo de uma representação única, a nível de secretário de estado, o distrito deve saudar este reforço, sendo que ele só será relevante se o desempenho dos empossados for profícuo e livre de manchas. De qualquer forma, e para começar, reflecte uma atenção mais cuidada a este distrito, tão deslembrado pelos governos precedentes. Talvez nunca tantos conterrâneos de puro sangue tenham estado na governação, e isso, independentemente dos emblemas e dos cartazes, não deixa de ser um bom sinal. Esperemos que as esplanadas da Praça do Comércio não lhes transfiguem a alma beiroa, não os transformem nuns diletantes sacudidos de maturidade e profundidade no manejo da arte política. E que a maresia a cheirar a podre, que chega do Cais das Colunas, não os estrague na limpeza dos procedimentos.

O primeiro ponto negativo vem do Partido Socialista. A ausência do seu secretário-geral, na cerimónia da tomada de posse do executivo, na passada terça-feira, devia ser impraticável. Era imperativo que o líder do maior partido da oposição estivesse presente. A democracia também vive de coreografias. E tem rituais, uns mais solenes do que outros, que todos os políticos avisados devem cumprir, reservando o seu lugar. Mesmo que isso lhes seja penoso e muito desconfortável. Mesmo que lhes custe o sossego e a tranquilidade. O não cumprimento destes cerimoniais torna as relações oleosas. Acresce que fazer-se representar não é a mesma coisa. As responsabilidades não se delegam, e a representação partidária é uma responsabilidade e não uma competência, no meu humilde entender.


Foi um começo deselegante, uma falta que soube a mau perder, talvez pela curtíssima margem da derrota, que deve ter sido terrível de digerir. Mas PNS, com bastante traquejo parlamentar e algum governativo, devia ter maior capacidade de encaixe, mais jogo de cintura para aguentar estes embates, sem rechaçar. Assim, deste modo, querendo encerrar o assunto com um altivo “ponto final”, não conseguiu iludir que lá atrás, bem escondido, estava o motivo escondido da ausência. Uma insuportável azia.

O segundo ponto infeliz veio de Montenegro. Se o PM  quer contar com o PS, não pode zurzir no maior partido da oposição, logo que inicia funções. Com isso, pode alimentar a caserna ululante, mas deslustra a formatura que reclama decência. Pode dar um sinal de vigor, mesmo prematuro, mas pode estilhaçar o breve estado de graça. Não precisava de tanto na tomada de posse. Foram alfinetadas a mais. Ficou-lhe mal. Não tem força para ser arrogante. Se quer dançar, e vai precisar de o fazer, não pode pisar o par, nem estreitar a pista. É dos manuais. Alguém que lhe explique essa coisa básica e comezinha. Uma leitura aprofundada de “O príncipe” não lhe calhava mal.

 

(Foto GP)

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Publicado em Opinião