O meu apoio a Pedro Nuno

Pedro Nuno nunca foi comunista nem trotskista como algumas mentes maldosas vão insinuando. Pedro Nuno é um social democrata, se seguirmos as velhas considerações da segunda metade do século passado, ou um ecossocialista moderado e não marxista que quer responder ao tempo das transformações digital e climática que serão determinantes para o nosso futuro, sem esquecer a liberdade, a igualdade e a justiça social que sempre foram as marcas do socialismo democrático português, o socialismo que veio de Mário Soares até António Costa.

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  • 20:06 | Quinta-feira, 30 de Novembro de 2023
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Pedro Nuno Santos, a meio do percurso de vida, tem uma história para contar. História cheia de sucessos e de alguns insucessos, caminho feito com cada vez mais agregação à realidade do país e às nossas obrigações no mundo

Eu saí da Juventude Socialista em janeiro de 1994. Terminava um longo período de militância que tinha começado em 1978 e que no norte transmontano era marcado pelo esmagamento do PS. Na JS passei por todos os estádios, do local ao nacional, e isso fez com que, sem qualquer saudade, me mantivesse atento ao que se passava no Salitre e depois na Braamcamp.

O congresso de Espinho tinha sido muito doloroso para um vasto conjunto de honorários. Ali nos reunimos para receber uma homenagem que o termo do mandato de Sérgio Sousa Pinto havia promovido. A contenda entre Jamila Madeira e Ana Catarina Mendes deixou-me muito triste. A JS haveria de se manter em situação de tensão nos anos seguintes.


Aveiro sempre foi um alforge de grande quadros da JS. Nos anos oitenta sobressaíam Porfírio Silva e Paulo Pedroso, nos noventa Afonso Candal e Fernando Rocha Andrade e, logo no início do presente século, um jovem franzino, irrequieto e superiormente inteligente começou a afirmar-se.

Desde o seu tempo de presidente da Federação de Aveiro da JS que não mais deixei de o acompanhar.

Em julho de 2004, Pedro Nuno Santos, num congresso muito fendido, ganha a liderança. Houve tentativas do partido para influenciar a Jota, mas não resultaram. Logo a seguir veio a crise com a nomeação de Pedro Santana Lopes e a demissão de Ferro Rodrigues com a mudança de líder. Era nítida desconfiança, a nova direção nacional do PS não conhecia em quem estava à cabeça da estrutura juvenil.

Das minhas notas retiro hoje que houve duas reuniões do Secretariado Nacional do PS em que a questão da JS foi debatida. Nessa segunda reunião os presentes dividiram-se entre os esperançados e os céticos. Lello o mais cético, Pedro Silva Pereira o mais esperançado. Eu cuidei de não ir mais além do que um pronunciamento sobre a autonomia da Jota. Tinha sido essa a minha luta ao longo dos anos.

O primeiro encontro que tive com Pedro Nuno foi de desconfiança. Ele era mesmo indomável, cheio de certezas. Mas sempre tive a convicção de que tudo o que eu dizia lhe provocava questionamento. Acho que foi isso que fez com que a nossa relação, tão distante em tempo de vida, tenha ido além da política. Tenho mesmo amizade por ele, e mesmo que nada tivesse havido de transformação na sua visão do mundo, eu estaria sempre com ele na luta que está a fazer para ser primeiro-ministro.

Ser Governo, como fomos a partir de março de 2005, provocou uma redução muito significativa das reuniões do Secretariado Nacional do PS. Mas o caminho de afirmação de Pedro Nuno no PS foi-se fazendo e a atenção, que passou a receber da estrutura do partido, ampliou-se.

Em 2005, autárquicas à vista, foi necessário encontrar um membro do Secretariado Nacional do PS, que também fosse membro do Governo, para estar presente na apresentação da candidatura de Américo Santos, pai de Pedro Nuno, à presidência da Câmara de São João da Madeira. Nesse ano tivemos um verão muito difícil em termos de incêndios florestais e muitas das estruturas concelhias fizeram-me convites para essas apresentações de candidatos pelo facto de ter tido muita exposição mediática enquanto responsável pela área.

Poderia não ter ido a São João da Madeira, um concelho onde era difícil afirmar o PS naqueles dias, mas fui e com interesse em saber quem era o pai de Pedro Nuno.

Foi uma sessão muito especial. Inovador como parecia ter sido sempre, Américo Santos, sabendo das dificuldades em juntar pessoas, fez uma comezaina num bairro e lá falamos, os dois, para quem se aproximou. Conheci aí a genética de Pedro Nuno através de Américo – quando Maomé não vai à montanha, vai a montanha a Maomé.

Pedro Nuno foi deputado entre 2005 e 2009 e eu estive no Governo. Mas tive colaboradores que estiveram contra ele e colaboradores que integraram os seus secretariados. Acompanhava ao dia o que se passava na JS. Os cortes, as opções, as bandeiras e confirmava, a cada tempo, que Pedro Nuno tinha alguma coisa diferente de todos os outros.

O momento de saída do Parlamento em 2009, ele para ser candidato autárquico e eu para ir tratar da minha sem a política diária, afastou-nos no contacto pessoal, mas não impediu a continuação da partilha de opiniões e de receios. Santos tem um defeito que eu detesto, como aliás também tinham dois dos anteriores líderes do PS – despacha por telemóvel e na maior parte das vezes não responde. A um velho socialista, como acho que sou, já não implica tal circunstância.

Regressou o nosso contacto mais diário a partir de 2013. Uma noite, reunidos na casa de António Costa na Av. da Liberdade, saiu dali uma vintena de socialistas com a certeza de que o então edil lisboeta iria avançar contra Seguro. Eu conheço Costa há 44 anos, e não dava como certo o que quase todos os outros assumiam. Costa não avançou!

Pedro Nuno ficou endemoninhado. Nos dias seguintes, dizem as minhas notas, falamos três vezes. Na primeira conversa ele disse-me que para ele Costa era passado, mas não foi.

Nas diretas que opuseram Seguro e Costa, Pedro Nuno garantiu com Fernando Rocha Andrade e Filipe Neto Brandão uma vitória esmagadora para o atual primeiro-ministro em Aveiro. Partiu daí o caminho que permitiria a afirmação/confirmação nacional.

Quando chegou ao topo da decisão política, Pedro Nuno tinha já uma máquina montada no país. Os jovens de 2005, passados tantos anos, já eram homens maduros, pais e gente confiável. Pedro Nuno, a par de Duarte Cordeiro, edificaram uma rede nacional que se desenvolveu depois com Pedro Delgado Alves, João Torres, Ivan Gonçalves e Maria Begonha até chegar a Miguel Costa Matos. Construiu-se assim o terceiro tempo do PS, depois do de Mário Soares que veio de 1973 a 1985 com declinações até Guterres e, com este, já partido de Governo, até agora com todos os líderes que se lhe seguiram.

No tempo de António José Seguro na Jota todos afiançavam, eu também, que aquele iria ser líder do PS. E foi! Desde 2009 que quase todos afiançam que Santos será líder do PS, e será.

Tudo isto não tem nada a ver com posições políticas, sensibilidades, caminhos. Só com a realidade pessoal, a dimensão de líder e o mau feitio que todo o líder comporta. E a História Universal não indica nenhuma grande figura que não tenha tido o seu mau feitio, mesmo Ghandi e Mandela no recato do lar.

A partir de 2015 o PS entrou numa espécie de paixão pelo “esquerdalho”. Lembro-me de no final de uma reunião da Comissão Política ter contado sete cachecóis iguais aos de Yanis Varoufakis, o primeiro ministro das Finanças grego que vinha do Sirysa. Os anos de 2016 e 2017 foram anos de vivas à Internacional, regressos a tempos passados e levianos. Não me preocupei muito com isso. A cada passo enviava inquietações a Pedro Nuno, sentia que elas eram tidas em conta. Também não deixava de protestar, em privado e em público, com António Costa e também sentia que era ouvido aqui ou ali.

Em 2017, numa altura em que as minhas divergências eram muitas e se revelavam nas votações parlamentares, concedi uma entrevista a Ana Sá Lopes. O título dessa entrevista era – “O futuro é o pedronunismo – claro que apoio”. Nela se escreveu que eu, da ala direita do PS, um perigoso conservador a bater com a mão no peito, apoiaria Pedro Nuno numa candidatura à liderança do PS.

Dizia ainda muitas outras coisas que me espantam pela sua atualidade. Mas o que me levava a antecipar em sete anos uma escolha era, tão só, o que tinha encontrado em 2005, primeiro observando Pedro Nuno, depois conhecendo a garra, a forma de estar e a inteligência do seu pai Américo.

Pedro Nuno Santos, a meio do percurso de vida, tem uma história para contar. História cheia de sucessos e de alguns insucessos, caminho feito com cada vez mais agregação à realidade do país e às nossas obrigações no mundo.

Há uns dias, quando contactei o poeta, embaixador e político Luís Filipe Castro Mendes para o motivar a apoiar Pedro Nuno Santos, ele escreveu-me citando um aforismo de Willy Brandt, a eterna figura da social democracia europeia – “… quem não foi comunista aos 20 anos não tem coração; quem não se tornou social-democrata aos 40 não tem cabeça.”

Pedro Nuno nunca foi comunista nem trotskista como algumas mentes maldosas vão insinuando. Pedro Nuno é um social democrata, se seguirmos as velhas considerações da segunda metade do século passado, ou um ecossocialista moderado e não marxista que quer responder ao tempo das transformações digital e climática que serão determinantes para o nosso futuro, sem esquecer a liberdade, a igualdade e a justiça social que sempre foram as marcas do socialismo democrático português, o socialismo que veio de Mário Soares até António Costa.

Entramos com ele no tempo em que o PS chega aos seus cinquenta anos, abrindo caminhos para as gerações de nasceram de Abril.

 

(Foto DR)

 

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