O Manel não podia ser ministro

O novo Ministro da Saúde é alguém que sabe que o SNS já tem dinheiro que chegue e só lhe falta boa gestão, é um profissional que compreende que a saúde no tempo de hoje não se resolve com um serviço porta-a-porta.

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  • 9:15 | Sexta-feira, 07 de Outubro de 2022
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No estado em que está a Conferência Episcopal Portuguesa, mais não resta ao Papa Francisco que não seja enviar ao Parlamento o Núncio Apostólico em Lisboa, para que este possa escolher, de entre os principais deputados da oposição, os mais santos e nomeá-los para as dioceses deste retângulo à beira do Atlântico.

O parlamento revela-se um espaço de santidade, onde muitos dos que por ali campeiam não perdem uma oportunidade para apontar o dedo ao primeiro que lhes aparece.

Claro que também há uns queixinhas que a cada notícia remetem cartas à Procuradora Geral da República ou aos presidentes dos Tribunais Constitucional ou de Contas. São os meninos rabinos de sempre, acompanhados das suas coelhas de estimação.

São Bento está melhor que um autêntico céu cheio de santos, anjos e arcanjos para além de todas as figuras celestes.


Mas vamos ao que interessa.

António Costa escolheu para Ministro da Saúde, o médico, deputado europeu, ex-secretário de Estado e dirigente socialista Manuel Francisco Pizarro de Sampaio e Castro.

Eu acho que foi um erro essa escolha. Um ministro socialista não pode ter nome de figura relevante do liberalismo português, não pode sequer chamar-se Sampaio e Castro. Era só o que faltava, um socialista precisar de um comboio tão grande para transportar tantos nomes e apelidos. Ainda se fosse João Fernando Cotrim de Figueiredo…

Está claro que em nome não fica atrás de Luís Filipe Montenegro Cardoso de Morais Esteves, mas Pizarro de Sampaio e Castro leva-nos aos Descobrimentos, a um mundo de Impérios. E Montenegro não é apelido que se apresente às criancinhas…

Mas também acho que foi um erro a escolha, porque um cidadão normal não se casa com uma Bastonária. Era só o que faltava! E logo um socialista, que deveria ter casado com alguém que passasse pelos pingos da chuva, que tivesse o primeiro ciclo como escolaridade. Um ministro da saúde, por razões de incompatibilidade só poderia estar casado com alguém que fosse uma dona de casa, sem desprimor, e mesmo essa Senhora não poderia ir ao médico nem consumir remédios, porque também aí teríamos uma incompatibilidade.

E ainda acho que foi um erro a escolha porque o novo ministro achou que poderia prestar serviços, em regime liberal, a entidades várias, coisa que nem legal nem eticamente lhe está vedado. Mas o problema é que era mesmo na área da saúde e isso era outra incompatibilidade. E tenho pensado muito em tudo isto e acho que o Ministro não soube prever que ia ser ministro e, por isso, deixou-se ficar com uma empresa sem atividade que ainda tinha um imóvel para vender antes de fechar. Que coisa, Pizarro não tem uma bola de cristal em casa?

Contudo, há ainda outra circunstância que me leva achar um erro a escolha do novo ministro. E esse erro é o facto de um dia ter integrado um júri de uma farmacêutica e ter recebido o valor do seu trabalho como acontece em qualquer parte do mundo. Era só o que faltava a qualquer um que preveja, um dia, ser ministro, atrever-se a receber, sequer,a remuneração merecida.

Manel, conhecemo-nos há tanto tempo e eu sempre achei que tu eras um super-homem e afinal não és!

O novo Ministro da Saúde é um dos mais competentes políticos que o PS tem no tempo de hoje. É expert no funcionamento dos sistemas de saúde europeus, é alguém que conhece, por dentro, o serviço público e a oferta privada.

O novo Ministro da Saúde dispõe de um conjunto de companheiros de viagem que sabem o que querem para o SNS, integrando-o num sistema abrangente.

O novo Ministro da Saúde, apesar do seu percurso político, deixou há muito de ser um estatista, não tendo medo da partilha de responsabilidades com os privados.

O novo Ministro da Saúde, apesar de prolixo, é um mediador, um compatibilizador, um homem de acordos e consensos.

O novo Ministro da Saúde é alguém que sabe que o SNS já tem dinheiro que chegue e só lhe falta boa gestão, é um profissional que compreende que a saúde no tempo de hoje não se resolve com um serviço porta-a-porta.

Depois de tudo isto, eu só acho que Pizarro tem dois problemas que precisa de melhorar– falar mais devagar e apertar o botão do casaco.

Espero que não fique tão santo quanto os rapazes de São Bento que lhe apontam o dedo, não vá ele ser escolhido como próximo Bispo do Porto…

 

(Fotos DR)

 

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Publicado em Opinião