O fantasma de Fernando Ruas

Almeida Henriques convive mal com as ideias construtivas, apenas por não serem dele. Gostaria de não ter oposição ou então, a existir, que fosse radical ou de “conversinhas”. Nem uma coisa, nem outra.

  • 11:58 | Quinta-feira, 28 de Novembro de 2013
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A 24 de novembro concluíram-se os primeiros 2 meses de mandato na câmara. Almeida Henriques quis “fazer a parte” de que respeitava o estatuto da oposição, mas não conseguiu. Manteve o boicote do seu antecessor que, depois de 16 anos, mudara de segunda para quinta as reuniões do Executivo. Motivo? Como entrara para a vereação um deputado socialista da Assembleia da República havia que lhe dificultar a vida.

Como poucos sabem, às quintas de manhã, era o dia – e mantém-se, de reunião dos grupos parlamentares de todos os partidos e, à tarde, era o período de votações mais intenso. Portanto, naquela mente criadora, havia que encontrar condições para dificultar o trabalho do deputado socialista, na AR e na autarquia, bem como obrigá-lo a gastar verbas próprias para cumprir o serviço público.

Almeida Henriques manteve a entorse e, desta vez, com dois deputados da AR, vice-presidentes das respetivas bancadas, um do PS e outro do CDS. Uma atitude menor, bem ao arrepio da transparência republicana e da solicitação feita pela própria presidente da Assembleia, a social-democrata Assunção Esteves.


Como se este afã não fosse suficiente, publicitou a atribuição de um espaço à oposição, pomposamente designado como “gabinete dos vereadores”. Serão seis ou sete metros quadrados, para todos, que também servem para alguns arrumos, sem uma janela, privacidade e condições para trabalhar ou receber os munícipes, dirigentes de instituições ou os próprios jornalistas. O gabinete que ficou vago pela perda de um vereador foi atribuído ao seu novo assessor de imprensa, o mesmo que abriu polémica em campanha e com quem a Presidente da Assembleia rescindiu.

Quanto à substancia das coisas, mesmo tendo, como é natural, todos os vereadores da oposição a votar favoravelmente mais de 90% dos assuntos correntes, revelou-se intransigente quanto à aceitação de propostas do PS.

O Dia Municipal da Igualdade, instituído pelo próprio município e apoiado pelo próprio governo, ou a candidatura de Viseu à Rede Mundial de Cidades Amigas das Pessoas Idosas (carta de Dublin) são dois exemplos recentes. E o paradoxal é que não apresentou nenhuma alternativa. Preferiu passar ao lado, não fazer.

Almeida Henriques convive mal com as ideias construtivas, apenas por não serem dele. Gostaria de não ter oposição ou então, a existir, que fosse radical ou de “conversinhas”. Nem uma coisa, nem outra.

Creio que o nervosismo vai aumentar, mas por efeitos colaterais. Se o ex-presidente da edilidade for o próximo responsável da segurança social, então, “desde o último andar do prédio grande”, passará a existir uma assombração para Almeida Henriques, o fantasma de Fernando Ruas.

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Publicado em Opinião