O EXEMPLO DE GIORGIA MELONI SERVE A PORTUGAL?

... depois da Itália, Portugal é país mais envelhecido da Europa e dos que envelhece mais rapidamente. Continuam a nascer poucos bebés. Estamos numa situação de pleno emprego. Precisamos de mão de obra em muitos setores com a agricultura, o turismo e a construção à cabeça.

Tópico(s) Artigo

  • 18:18 | Sábado, 13 de Dezembro de 2025
  • Ler em 2 minutos

Giorgia Meloni tornou-se a coqueluche da extrema direita, no espaço europeu. Somou pontos, até ser eleita, com um discurso musculado contra a imigração. Apostou forte, durante a sua campanha, numa narrativa que associava imigração e insegurança.

Já no poder, a senhora primeira-ministra tem sido esmagada e engolida pela realidade. Itália é um dos países mais envelhecidos do mundo, onde não nascem bebés e as pessoas vivem mais anos. Foram adotadas algumas medidas para incentivar a natalidade – bónus por cada nascimento, apoios fiscais – positivas, mas ineficientes, demograficamente irrelevantes.

A demografia, neste caso o “Inverno Demográfico”, não se resolve, no curto / médio prazo, com paliativos. As projeções indicam que, para a Itália poder manter os atuais níveis de população, precisará de 10 milhões de imigrantes até 2050. Confrontada com o contexto italiano, com o mundo real e não o panfletário, a líder do Governo, no verão de 2025, anunciou a emissão de mais 500.000 novos vistos de trabalho para cidadãos de países extracomunitários, entre 2026 e 2028. Entretanto, dando uma no cravo e outra na ferradura, vai mantendo a ideia peregrina de enviar imigrantes para centros de detenção na Albânia…


Entre a hipocrisia e os paradoxos, a União Europeia trabalha no Pacto de Migrações e Asilo. O Governo português apoia o mecanismo de solidariedade, mas votou contra a proposta que define a quota-parte de cada Estado-membro, chamado a prestar solidariedade aos países das linhas da frente que enfrentam uma enorme pressão, porque são a porta de entrada para milhares de migrantes.

Não tenho elementos que me permitam avaliar o voto contra do nosso Governo. Mas, como não me custa mais do que alguns caracteres, recordo que também Portugal vive, há muitos anos, um “Inverno Demográfico”, depois da Itália, Portugal é país mais envelhecido da Europa e dos que envelhece mais rapidamente. Continuam a nascer poucos bebés. Estamos numa situação de pleno emprego. Precisamos de mão de obra em muitos setores com a agricultura, o turismo e a construção à cabeça.

Este mês, tivemos conhecimento do novo indicador do Banco de Portugal (A economia portuguesa: 2025–28, “Monitorização mensal dos fluxos migratórios de estrangeiros e os seus desafios”) sobre a entrada de trabalhadores estrangeiros em Portugal. Caiu cerca de 40 %, na segunda metade de 2024, o número de trabalhadores imigrantes que abandonou Portugal, a um ritmo mensal médio de 3,8 mil no ano passado. Perante os dados, o Ministro Leitão Amaro afirmou que “A economia tem de se habituar ao ajustamento e à sua transformação para trabalho mais qualificado e mais bem pago.”

Todos nós sonhamos com empregos mais qualificados e melhor remunerados. É legítimo e desejável. Com a incapacidade de atrair mão de obra qualificada, a que temos, essencialmente jovem, emigra, qual será a solução para preencher postos de trabalho menos qualificados e pouco atrativos financeiramente? Com a diminuição do número de imigrantes, quem cultivará os nossos campos, lançará as redes de pesca, servirá e entregará refeições, cuidará dos nossos idosos, construirá o aeroporto e novas habitações?

O Governo português pode inspirar-se na política italiana e ter a senhora Meloni como bom exemplo do que não deve fazer. O populismo do discurso não tem conexão com o pragmatismo da ação.

Gosto do artigo
Palavras-chave
Publicado por
Publicado em Opinião