Muito mais é o que nos une?

    O mesmo país que pára para ver um jogo de futebol, cujas entradas custam dezenas de euros, não consegue que as cantinas escolares onde os seus  filhos almoçam todos os dias  tenham comida decente, ou que deixem de carregar um peso absurdo nas mochilas escolares. O país onde os níveis de literacia são […]

  • 8:07 | Sexta-feira, 03 de Novembro de 2017
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O mesmo país que pára para ver um jogo de futebol, cujas entradas custam dezenas de euros, não consegue que as cantinas escolares onde os seus  filhos almoçam todos os dias  tenham comida decente, ou que deixem de carregar um peso absurdo nas mochilas escolares.


O país onde os níveis de literacia são ainda confrangedores, é o mesmo país onde todos sem excepção têm opinião de especialistas sobre tudo: da Catalunha  à importância de plantar ou não eucaliptos.

O país onde Lisboa imagina um Portugal que não existe – de vilas pitorescas e senhoras felizes de burro pela mão – está povoado de milhões de portugueses que não compreendem, e não podem compreender – porque  quem poderia compreender? – que há um país de felizardos, que souberam trepar jotas acima, ou que tiveram a sorte de herdar lugares em bons colégios, colegas com 32 apelidos e pais que sabem abotoar/desabotoar o botão do blazer com a dose certa de mundanidade e no momento certo, um país de felizardos onde nunca há pobres, ou gente que espera em filas, quanto mais gente que tem de escolher entre ir ao supermercado ou ao dentista com os filhos.

E é esta distância entre editores de jornais e televisões lisboetas,  deputados da nação,  governantes, grandes empresários, gente que decide e gente que aguenta as decisões no país real, é esta distância que nos desata, que nos divide e que nos mata.

Porque quando a catástrofe chega e o aperto é geral, ou a alegria é de todos e o brinde é nacional, nessa pequena hora que dura instantes, somos todos do mesmo país, somos todos Portugal.

Mas no minuto seguinte em que a hora é do venha a mim, já os vizinhos são inimigos, os empregados mandriões e o contribuinte um facínora.

E à excepção dos feitos desportivos da selecção– em que todo um país se redime nas velhas glórias do passado – vamo-nos dividindo em capelas e capelinhas, invejas e invejinhas, esquecidos que a força de uma nação é a nação de todos.

E se Portugal continua este projecto adiado, a culpa não tem 10 milhões de culpados. Os que manipulam são poucos e  muitos são os manipulados.

O que fazer então? ouve-se de sussurro em sussurro, nas bocas dos desanimados, nos braços caídos, nos velhos e nos desempregados.

Fazer perguntas. Perguntas? Sim perguntas.

Uma refeição escolar custa 1,46 €. Quanto paga o ME às empresas que fornecem as cantinas escolares? Porque é que não se cozinha em todas as escolas que têm cantinas? Porque é que a qualidade das refeições  – e não, não estamos  a falar da adequação nutricional, mas da qualidade enquanto confecção que torne a refeição apetecível –  é motivo de tantas queixas sem que nada se altere?  A opção política pela concessão das cantinas das escolas a privados não nos interessa? Ai isso é política? Eu pensava que era a diferença entre as minhas filhas comerem decentemente na escola. Ou não.

 

 

 

 

 

 

 

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