Miró

“Há imensos Mirós por estas bandas, mas não conheço nenhum pintor com esse nome.” Esta frase poderia ser da autoria do Secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, talvez não lhe ficasse mal. Se foi capaz de afirmar “que manter as obras de Miró não é prioridade” (RTP.PT), tudo é expectável. Mas desta está […]

  • 10:34 | Sexta-feira, 07 de Fevereiro de 2014
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“Há imensos Mirós por estas bandas, mas não conheço nenhum pintor com esse nome.” Esta frase poderia ser da autoria do Secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, talvez não lhe ficasse mal. Se foi capaz de afirmar “que manter as obras de Miró não é prioridade” (RTP.PT), tudo é expectável. Mas desta está livre, a frase foi retirada do livro de Walter Erben (Taschen, 2004), intitulado “Miró” e foi proferida por um habitante de Palma de Maiorca, quando o autor do livro procurava a casa do artista para o entrevistar.

Em cada folha do referido livro está plasmada a conjugação das cores e dos símbolos. O simbolismo da cor das suas obras é tão enfático e gráfico que faz lembrar grandes senhores da pintura: Van Gogh e Mondrian.

Quanto à polémica relacionada com a coleção que, em tempos, pertenceu ao BPN, há questões que gostava de ver respondidas:


A)    Será imperativo leiloar as 85 obras que fizeram parte do espólio do BPN?

B)    A saída das obras do país respeitou todos os parâmetros legais?

C)    Faz sentido o governo português tratar esta questão como um “projeto chave na mão”?

D)    O secretário de estado da cultura teve alguma interferência neste processo?

E)     A única, mesmo considerando que relevante, preocupação é a financeira?

Quando se reduziu a cultura a uma secretaria de estado, foi dado um (mau) sinal ao país. É caso para dizer que o artista catalão já retratava perfis como o de Jorge Barreto Xavier e pintou o “NU DE PÉ”, 1918 (óleo sobre tela, 153×120,7 cm, St. Louis Art Museum, St. Louis). Barreto não tem orçamento, nem autonomia para decidir o que quer seja. Está em pé, mas “despido” de ideias, de iniciativa e de carisma, não tem peso político, é uma nulidade. Este triste episódio reduziu-o a cinzas, talvez deva pensar em fazer outra coisa. Aqui fica uma dica, fazer uma visita virtual (a austeridade a isso obrigará), ao site dedicado à arte do catalão ( e outra ao da Fundação Joan Miró ( ). Talvez possa reformular a sua gestão das prioridades e tornar-se num autêntico “GENTLEMAN”, 1924 (óleo sobre tela, 52x47cm, Coleção de Arte Pública, Kunstmuseum, Basiléia). A esperança é a última a morrer…

Definir um rumo e apoiar o que tem qualidade tem que ser um desiderato do Secretário de Estado da Cultura, mesmo que os seus objetivos sejam esmagados pelo peso da austeridade e pelas folhas de excel do Ministério das Finanças.

Este episódio foi noticiado, ontem, nos principais jornais do mundo que sublinham a alegada ilegalidade da venda. Foi interposta uma segunda providência cautelar pelo Ministério Público que levou a que a leiloeira britânica Christie’s cancelasse o leilão.

Um dos trabalhos emblemáticos de Miró é “AIDEZ L’ ESPAGNE (Ajudem a Espanha)”,1937 (Cartaz de apoio ao Governo Republicano durante a Guerra Civil Espanhola, Serigrafia, 24,8×19,4, coleção privada). Esta obra visou  apoiar os que combatiam pela liberdade em Espanha. “Miró pintou um cartaz com cores vivas, brutais.  Mostra uma figura com um enorme punho cerrado e um gigantesco braço musculado, uma figura rudemente vigorosa que ameaça esmagar os inimigos da liberdade”.

Hoje, o imponente braço ameaçaria esmagar os inimigos da cultura.

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Publicado em Opinião