“Lesados do Novo Banco”: Mais do que uma questão moral, é uma questão de justiça!

    Os Lesados do Novo Banco estiveram na tarde desta quinta-feira em Viseu, a reivindicar a devolução do dinheiro investido em papel comercial do Grupo Espírito Santo (GES). Os manifestantes acabaram por sair do interior da agência pelo próprio pé, depois do apelo à calma por parte da direção da Associação dos Indignados e […]

  • 16:54 | Sexta-feira, 13 de Março de 2015
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Os Lesados do Novo Banco estiveram na tarde desta quinta-feira em Viseu, a reivindicar a devolução do dinheiro investido em papel comercial do Grupo Espírito Santo (GES). Os manifestantes acabaram por sair do interior da agência pelo próprio pé, depois do apelo à calma por parte da direção da Associação dos Indignados e Enganados do Papel Comercial e da PSP. Pelo caminho exigiram a demissão de Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, por não saber exercer o seu poder de supervisão.


A Associação dos Indignados e Enganados do Papel Comercial (AIEPC), com sede em Viseu, e as suas centenas de Associados espalhados por todo o país, clientes do antigo BES, hoje NOVO BANCO, não pode ficar silenciada perante a falta de verdade em algumas das declarações produzidas pelos responsáveis da área comercial do BES/NOVO BANCO na Comissão de Inquérito ao BES.

 

A verdade é que todos os manifestantes clientes do Novo Banco, consideram estar a ter um tratamento abusivo por parte deste, quando ao mesmo tempo se praticam actos ruinosos, aos olhos da regulação bancária.

Para os inquiridos na comissão de inquérito do BES/GES, os seus erros são um ”assunto menor”, da mesma forma que o são para um primeiro-ministro, que esteve cinco anos sem pagar contribuições à Segurança Social, e para um ex-primeiro ministro, que está preso por suspeitas de fraude fiscal, branqueamento de capitais e corrupção.

Será um ”assunto menor” que o Banco de Portugal tenha obrigado o Dr. Ricardo Espirito Santo Salgado a criar conta para pagar papel comercial do GES ?

Será “assunto menor”, o dinheiro entrar e sair dessa conta para beneficiar credores privilegiados do ex. D.D.T. com a conivência do Dr. Carlos Costa, originando actos de gestão ruinosa no BES e em todo o sistema bancário?

A verdade é que o Banco de Portugal foi negligente, apesar de querer lavar as mãos como Pilatos ao vir agora apresentar ao Ministério Público os resultados da auditoria forense ao BES, dando conta de 21 desobediências de Ricardo Salgado ao supervisor.

Tal só é possível, porque existiu promiscuidade entre o BES e o GES e alegado conluio entre o Dr. Salgado e o Dr. Costa, permitindo que houvesse saídas de fundos para reembolsar papel comercial do GES, detido por clientes do BES, não classificados internamente no segmento de retalho, segundo conclusão da auditoria forense. Em causa está um valor de 740 milhões de euros, dos quais 500 milhões para clientes do segmento “private” e 239 milhões para clientes privilegiados… do Dr. Salgado.

A verdade é que o Regulador tinha a obrigação de assegurar a redução substancial e efectiva dos riscos decorrentes da exposição direta e indireta a entidades do ramo não financeira do Grupo Espírito Santo.

A verdade é que houve saída de fundos para reembolsar papel comercial detido por clientes com aplicações em offshores; saída de fundos para liquidar empréstimos bancários junto do BCP e do Montepio; saída de fundos para liquidar obrigações da ES Irmãos, entre outros.

A verdade é que o Banco de Portugal tinha ordenado ao Dr. Ricardo Salgado a criação de uma conta denominada “escrow“, para a qual reverteriam todas as suas receitas (nomeadamente de venda de activos), com o objectivo único de pagar parte do papel comercial devido a credores de retalho, pequenos subscritores aos balcões BES, hoje, Novo Banco.

A verdade é que a generalidade dos clientes de retalho do BES, no passado e hoje no NOVO BANCO, usou e continuou a usar os seus serviços para a gestão da sua vida diária.

 

Um Banco, embora com objetivos comerciais perfeitamente legítimos, deve lidar com estes clientes e suas poupanças numa atitude baseada na ÉTICA e na CONFIANÇA. Ora, não foi esse o comportamento do Banco BES no passado nem é hoje o do NOVO BANCO, que herdou o corpo e, por opção própria, mantem a sua alma, para com os seus clientes de retalho. O caso do Papel Comercial, vendido como um depósito de poupança seguro aos seus clientes com evidente iliteracia financeira, é um exemplo chocante deste comportamento.

 

Os funcionários do BES / NOVO BANCO, usaram o banco como plataforma da prática de um assalto à camada de retalho, os clientes que possuíam pequenas e médias poupanças.

 

Estes mesmos administradores e gestores falsearam as contas da verdade, em desrespeito pelos Portugueses que se veem representados no seu Parlamento, desfazendo-se em palavras que não colam com a realidade.

A única Verdade que ao dia de hoje se sabe perante tantos factos e cronologias já vindas a público, (falta o que ainda haverá por descobrir, por parte do Ministério Público) perante os processos-crime que poderão vir a ser colocados contra TODOS aqueles que, de forma activa ou passiva, directa ou indirecta participaram nesta BURLA), é a de que a venda do Papel Comercial aos Balcões do BES, foi um acto premeditado pelo Banco e posto em prática pela área comercial do mesmo, perante clientes que, contrariamente ao que funcionários superiores do BES/NOVO BANCO quiseram fazer crer no Parlamento, na sua esmagadora maioria, não possuíam nem possuem a literacia financeira para compreenderem na sua plenitude aquilo que lhes foi “enfiado pela garganta abaixo”, pela área comercial do retalho daquele Banco.

 

A venda de Papel Comercial aos Balcões de retalho, na forma e no modo como foram selecionados os clientes vítimas, tornam evidente a ausência de seriedade e mostra como é extremamente fácil “ROUBAR” as poupanças de uma vida dos Clientes.

 

O Novo Banco herdou os Administradores, directores, colaboradores, mas também os clientes do BES. Infelizmente, herdou também a falta de palavra e a falta de seriedade ao não honrar os compromissos para com os seus clientes. Num país onde todas as entidades de topo sofrem (especialmente neste caso) de um problema de memória, uns mais recente que outros, nós cá estaremos sempre para a avivar.

 

A falta de escrúpulos na actuação dos Bancos e a ausência de fiscalização das entidades reguladores põe a nu o risco em que se encontram as poupanças dos Portugueses, não sendo de todo de confiar no Sistema Bancário.

 

Só com a resolução do caso do Papel Comercial se fará justiça, mas simultaneamente será possível sarar esta ferida do sistema bancário, financeiro e da regulação.

 

Há que, de uma vez por todas EXPURGAR do sistema bancário os MENTIROSOS, ALDRABÕES, GANANCIOSOS e EGOÍSTAS que não respondem pelos compromissos assumidos expressamente: “O papel comercial emitido pela ESI e Rio Forte transitam para o NOVO BANCO e este mantem a intenção de reembolsar o capital investido pelos seus clientes não institucionais de então”.

 

Independentemente das operações de “cosmética e maquilhagem” que o BES sofreu por forma a garantir a sustentabilidade do sistema financeiro português (e veja-se que tanto assim é que, do BES para o Novo Banco, a única coisa que mudou terão sido alguns elementos do Conselho de Administração, pois os Diretores, Gestores de conta, instalações, telefones, os cartões de crédito e débito dos próprios clientes) são exatamente os mesmos do BES). Onde está a mudança? Para os clientes não há rigorosamente nenhuma! Ou seja, os clientes continuam a falar com as mesmas pessoas dentro dos mesmos balcões, através dos mesmos números de telefone, a usar as mesmas contas, com os mesmos cheques, incluindo cartões de crédito e débito, todos eles com marca BES apesar de agora nos dizerem que se chamam NOVO BANCO!!!!!

 

Para registo futuro e face às mensagens, directas e indirectas, que a Administração do NOVO BANCO tem passado à opinião pública, a A.I.E.P.C. não poderá nunca aceitar a descriminação “comercial” dos clientes do BES/NOVO BANCO; até porque numa sociedade constituída por pessoas justas, dignas e honradas, não nos parece concebível que perante a presente situação, a solução a criar possa seguir uma mera lógica fria e mercantilista.

A A.I.E.P.C deixa claro que pretende ser parte da solução na construção de pontes e diálogos que a todos interessam. No entanto, a manter-se esta posição de recuo por parte do Banco de Portugal e do Novo Banco, altamente lesiva para os clientes do BES/NB, não poderemos deixar de ser um enorme problema para todos aqueles que imaginem um cenário diferente do que os Clientes do Novo Banco justamente merecem.

 

Nota da direcção: Alberto Neves é Vice-Presidente da Associação “Lesados do Novo Banco” e colaborador do RD.

(Foto DR)

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Publicado em Opinião