Lancei o primeiro panfleto sobre este tema na véspera. Levo 19 comentários, 148 apreciações e duas partilhas. Culpas nossas e já vou à distribuição de jornais. O Ricardo Bordalo, jornalista que muito prezo e que muito ensina, alertou para a falta de notícias destas bandas. Em Lisboa as redações querem faca e alguidar. E o fenómeno. E sim, tem razão. Tempos idos em que Trás-os-Montes tinha, só no JN, três correspondentes. A falta de cobertura simétrica é causa mor da decadência das vendas. Mas a falta de assinaturas por parte de escolas e organismos públicos, o rigoroso cumprimento das regras de publicidade também. Bem podem berrar agora que a vaca foi desnatada e os distribuidores, é um oligopólio, mas enfim, querem mamas em esquálidas tetas. Das publicas, torcendo pano e virando bico ao prego. Se não houver que distribuir, bem podem ir pelo pelourinho. A distribuição de jornais organizou-se, quando cada matutino, vespertino ou semanário tinham as suas Peugeots.
Trabalhei, já jornalista encartado, na VASP. À época comecei como empregado de subcontratado. Eram 500 euros todas os meses, trabalho de sábado a domingo, das 3 às 5 da manhã. Os tempos pediam dois empregos, e que grandes histórias me trouxeram essas viagens, e eu lá ia, rota Guarda Trancoso. Sempre teso nos bolsos, um dia o meu camarada do lado, que operava Guarda Sabugal, mandou parar na estação de serviço. Sabendo ele das minhas algibeiras, aviou-me o Português Amarelo, o café e a bola de Berlim. E ali conversámos. Fui a Coimbra, fiquei como subcontratado e passei a ganhar 75 euros dia. Quando havia segunda volta, sinal de que um jornal se atrasara no fecho, o soldo era o mesmo. Mas duas carrinhas na Guarda, só uma vinha a Viseu e ganhavam ambas. Sempre bem tratado. É serviço nocturno com capacidades diurnas. Uma logística preditiva. Que aliás a VASP já fez, quando os jornais davam prendas como o épico jogo de xadrez em mármore oferecido pelo Diário de Notícias, que eu trocava por dois Correio da Manhã, na última paragem. Eram 40 paragens, quarenta chaves e uma centena de molhos: JN e CM em molhos à parte, os Mistos onde vinham o Diário de Notícias e os desportivos. Do outro lado, a Logista que operava as mesmas rotas e com quem se praticava o cambalacho. Hoje vais tu ao Sabugal eu faço a Guarda e vice-versa. Era uma milena de gasóleo mês, carro e despesas nossas e ganhávamos dinheiro, mesmo nesse 2008 de preços doidos no gasóleo. Sei agora que a VASP vai deixar de garantir a distribuição em oito distritos. Beja, Évora, Portalegre, Castelo Branco, Guarda, Viseu, Vila Real e Bragança. Creio os jornais cheguem apenas às capitais de distrito. Que isto ocorra sem um ai, diz bem da nossa pequenez. Que a empresa não seja preditiva e subcontrate a entrega local a um operador da zona é toleima ou, talvez, uma espécie de subsídio para que os territórios, territórios é o que somos para a Soberania, tenham imprensa livre. Acesso a ela. Em papel que além de poucos somos velhos. Culpados? As quebras de vendas da imprensa e o aumento dos custos operacionais. O costume. E aos costumes dizemos nada. Eu não porra. Quero o raio dos jornais e das revistas nos quiosques e tabacarias. Caramba, há uma que a fazem em casa e não desiste de lutar e sobe vendas, quero ser abastecido em nicotina e letras. Quero imprensa nos quiosques, ou papelarias, ou tabacarias, em todos os concelhos.
Primeiro levaram o médico. Depois fecharam a escola. O juiz passou a ser de fora, a repartição minguou, os multibancos desandaram, as escolas já tinham ido, e ficámos nós. Uns gajos a viver nos territórios. Uns indómitos dos territórios que não precisam ler jornais, a internet dá tudo. Há limites. Querem-nos tirar os jornais e eu não aceito esse desvario.
Nem os queixumes. O Praça Alta e o Diário do Minho, o último que veio pelo correio e a redação que visitei, demonstram que é possível. A Visão, feita em casas de jornalistas, também.
E aí culpa nossa, que pensamos que não ter quem de cá retrate é otimização de recursos. Já conheço a receita. Desde 2012.
Mas sim, perde-se a soberania, a literacia, o papel e aventa-se tudo à internet. E a alegria de ler as novas? Triste país que abdica assim. De si. De se conhecer. De se comprometer. De se engajar com as fronteiras, que do lado de lá da Ibéria não é assim. A corte cada vez mais em bolha apertada e nós, na largueza de horizontes, não nos capacitamos de reagir e ter uma voz sonora no panorama nacional. Porra para isto.
Amadeu Araújo – Jornalista e publisher