Hoje comemora-se o Dia Nacional do Livro. Por princípio não sou muito dada a dias Nacionais! Mas há dias nacionais e dias nacionais!
Para ilustrar a importância da leitura, escolhi o Gato Malhado e a Andorinha Sinhã que é um dos livros de leitura obrigatória no terceiro ciclo do ensino básico.

O livro O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá é uma história de amor escrita pelo grande Jorge Amado em 1948, como prenda de anos para o seu filho João Jorge no dia em que completava um ano. Anos depois, em 1976, os textos foram encontrados e publicados em livro.
A obra é um mundo inesgotável de afectos, de emoções, de encontros e desencontros, que descreve a paixão entre um gato feio e antipático, pelo qual os outros animais do parque não nutrem muita simpatia e como lhe têm receio, não se aproximam dele, e uma andorinha simpática, graciosa e alegre.
Este livro, escrito de forma simples mas trabalhada, em que cada frase, cada palavra parece ter sido escolhida de forma tão meticulosa e cuidada, que só podia ser aquela e não outra. Também realça o problema do preconceito, da intolerância e das leis vigentes, uma vez que a história de um gato que se apaixona por uma andorinha, levanta polémica entre todos os animais do parque, sendo esta relação vista como impossível.
É por isso que eu o escolho como um dos livros mais belos que já li. Li, reli e aconselho. Para aguçar o apetite dos leitores, deixo duas das muitas belas passagens;
“O Gato Malhado era a sombra na vida clara e tranquila da Andorinha Sinhá. Por vezes estava cantando uma das lindas canções que aprendera com o Rouxinol, e, de súbito, parava porque via (às vezes adivinhava) o grande corpo do Gato que passava em caminho do seu canto predileto. Ia então pelos ares, seguindo-o devagar, e, em certa tarde, divertiu-se muito a atirar-lhe gravetos secos sobre o dorso. O Gato dormia, ela estava bem escondida entre as folhas da jaqueira, rindo a cada graveto que acertava nas costas do Gato, levando o preguiçoso a abrir um olho e mirar em torno. Mas logo o cerrava, pensando tratar-se de alguma brincadeira idiota do Vento. De há muito, o Gato Malhado aprendera que não adianta correr atrás do Vento para dar-lhe com a pata. O melhor era deixá-lo cansar-se da brincadeira. Mas naquele dia, como a coisa continuasse, resolveu ir embora. A Andorinha Sinhá retirou-se também, contente com a peça que pregara ao temido Gato Malhado. […] Devo concluir que o Gato Malhado, de feios olhos pardos, de escura fama de maldade, havia se apaixonado? Agora que ele e Andorinha dormem, que só a Velha Coruja está acordada, permito-me filosofar um pouco. É um direito universalmente reconhecido aos contadores de histórias e devo usá-lo pelo menos para não fugir à regra geral. Desejo dizer que há gente que não acredita em amor à primeira vista. Outros, ao contrário, além de acreditar afirmam que este é o único amor verdadeiro. Uns e outros têm razão. É que o amor está no coração das criaturas, adormecido, e um dia qualquer ele desperta, com a chegada da primavera ou mesmo no rigor do inverno. Na primavera é mais fácil, mas isso já é outro tema, não cabe aqui.”
Aproveitem a chegada do inverno e os serões à lareira, para iniciarem uma relação com os livros, que pode ser de paixão e cumplicidade para toda a vida!
Leiam pela vossa saúde intelectual! Leiam e verão que não custa nada e dá muito prazer!
Ondina Freixo