Os tempos não se afiguram fáceis. Nem temperados. O discurso engalfinhado e extremista do Chega, pendurado num galho berreirento, vai desembocar inevitavelmente numa radicalização das comunidades imigrantes. À força de serem tratadas, injustamente, como responsáveis de todos os males, virá o dia em que que farão ouvir a sua voz. Infelizmente da pior maneira: violenta e descontrolada. É só uma questão de tempo.
Só não vê quem não quer, ou, irresponsavelmente, prefere ignorar os discursos xenófobos e disruptivos.
Neste mundo global, a França está perto e Paris é aqui ao lado. Sigamos as notícias e ouçamos o que por lá ganha importância. É óbvio que a França é um gigante, com uma enorme capacidade de regeneração, e que nós somos um anão, com as limitações próprias da nossa dimensão.
Quando esse problema nos tocar de verdade, talvez acordemos para a realidade dura a que a política de António Costa, absolutamente irresponsável e suicidária de portas escancaradas, com direito a brinde europeu, tristemente nos conduziu.
Entretanto, insensíveis, vamos continuando a empurrar os problemas sérios com a barriga, teimando os políticos nos ciclos eleitorais, para aí dirigindo as suas prioridades.
Ponhamos os pés bem assentes na terra. Ou há reformas estruturais no sistema eleitoral, na segurança social, na educação, na saúde, na justiça, na economia, ou, devagar, o adquirido vai indo pelo cano abaixo.
Para termos o que merecidamente reclamamos, temos de produzir e criar riqueza muito acima do quem tem sido norma. Há um buraco enorme entre o que enriquecemos e o que gastamos. Por mais que se diga que as dívidas públicas não são para pagar, mas para se ir pagando, convém fazermos opções sustentáveis, isto é, que não hipotequem o futuro.
Aqui chegados, manda a razão e determina a ciência que mudemos, antes que forças externas e estranhas nos mudem. Portugal não produz riqueza capaz de sustentar o Estado Social que aí está e que consome os recursos que temos, e não temos. Nem tirando aos ricos, nem taxando as grandes fortunas, banca e seguradoras. Receio que não nos redimensionando algo de mal nos vá acontecer. Daí que, friamente, nos restem duas opções: ou encolher o Estado Social – péssimo sinal -, ou pôr o país a crescer – também difícil, a avaliar pelo histórico. Nenhuma das duas escolhas se fará sem sangue, isto é, sem sacrifícios. Numa economia de mercado, não há outra forma de abordar este problema, que não pára de crescer a olhos vistos.
O bom político é aquele que nos vai abrindo a cabeça para o que nos espera e nos esclareça sobre as secantes que vão cruzar o nosso destino colectivo.
O bom político é o que de uma forma transparente nos fale verdade, mesmo dura, sobre o país que queremos ser e o que temos de fazer para chegar lá.
O bom político é o que, afastando as cartilhas, nos fale sobre modelos económicos e alternativas.
O resto, é pouco claro e de segurança duvidosa. Estarão os políticos dispostos a fazer esse caminho pouco popular e dar o exemplo, começando por si, por esse talhão dourado, resistente a todos os encontrões, numa solidariedade incomum, que verga todas as barreiras ideológicas?
Alerta: este reconhecimo não é o mesmo que dizer que temos a mais, mas que temos de fazer mais e melhor.
Fico-me por aqui, no temor de que, continuando neste jeito desassombrado e cru de escrever, possa vir a aparecer pendurado num pinheiro, ou apodado de fascista, “coisa” que, fundada apenas na opinião divergente, e a milhas marítimas do que eu sou, me irrita solenemente.
Rebelo Marinho