Ir à fonte…

Na fonte, falava-se de tudo, desfaziam-se e surgiam boatos… Na fonte, começavam namoros, namorava-se e terminavam-se namoros… Na fonte, os rapazes cortejavam as raparigas atirando-lhe água do tanque num ritual consentido… Na fonte, as raparigas tinham por algum tempo uma liberdade consentida… Na fonte, galhofava-se, contavam-se anedotas e sussurravam-se segredos…

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  • 19:47 | Segunda-feira, 06 de Maio de 2024
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A fonte da Tulha, construída em 1925, foi durante muito tempo o local privilegiado de recolha da água para toda a aldeia.

Privilegiado pela sua localização e pela qualidade da água, fresca e saborosa que brotava das suas duas bicas, abundantemente, no Inverno e com maior escassez no verão.

A tarefa de ir à fonte cabia às mulheres, mais precisamente às raparigas que no final de um dia de estio e canseiras se regalavam com as conversas e as brincadeiras que surgiam em volta deste santuário de vida.


Quando se chegava à fonte de balde, regador ou caneco na mão, a primeira pergunta era: quem é a última e a partir dessa resposta fazia-se o controle sem precisar de senhas…nem sempre corria bem e por vezes a confusão instalava-se e era ver todo o vasilhame a voar pelo ar com duas ou mais raparigas engalfinhadas a libertarem a sua fúria que muitas vezes não tinha nada a ver com a situação ali criada, tendo por detrás outras razões que o coração desconhece… ou conhece!

 

Na fonte, falava-se de tudo, desfaziam-se e surgiam boatos… Na fonte, começavam namoros, namorava-se e terminavam-se namoros… Na fonte, os rapazes cortejavam as raparigas atirando-lhe água do tanque num ritual consentido… Na fonte, as raparigas tinham por algum tempo uma liberdade consentida… Na fonte, galhofava-se, contavam-se anedotas e sussurravam-se segredos… Na fonte vivia-se…

Abençoada escassez de água que permitia que à volta daquela fonte se vivesse de forma tão alegre e intensa!

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