Hoje tive um pesadelo, sonhei com uma máquina do tempo

Acordei com um sentimento de esperança. É que esta gente que planeia estas coisas é geralmente muito pouco inteligente, muito pouco culta e não conhece a história: por isso investem pouco, cada vez menos, na cultura, isso é “estourar” dinheiro, dizem, pensam e teorizam.

  • 12:56 | Terça-feira, 03 de Dezembro de 2013
  • Ler em 2 minutos

Nota inicial: este pesadelo é uma estória real.

Dei comigo a pensar, no pesadelo, que esta crise, em parte inventada e em parte real, que vivemos era uma ignóbil MÁQUINA DO TEMPO. Uma máquina quase perfeita, que podia ter sucesso, mas que tinha, como todas as máquinas (e eu sei do que falo), um defeito fundamental: não contava com o fator humano, com a sua capacidade de resistência e de luta contra a adversidade. Dizia o poeta: “há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não“.

Segundo esta máquina, em breve, lá para final de 2014 estaremos fora da crise que os seus inventores (e construtores) parcialmente inventaram e incentivaram: a dívida real ignobilmente criada por corrupção, má gestão e desorientação estratégica, a destruição dos meios de produção nacionais e as nossas potencialidades intrínsecas que deveríamos ter desenvolvido para sermos competitivos, e que destruímos em troco de uns euros de subsídios, é o resultado desse “incentivo”. Sim, tivemos má gestão. Sim, não temos políticos à altura dos interesses do país, com a fina inteligência estratégica e o amor à pátria e aos seus concidadãos como valor seguro, que tenham em mente, exclusivamente, o interesse nacional. Sim, o Estado está tomado pelos do “toma lá, dá cá”, que trocam tudo pelo seu interesse pessoal e de curto-prazo. Sim, abatemos, nesta inexorável onda de populismo, todos aqueles que, conscientes do caminho que seguíamos, alertaram, tentaram fazer diferente e tentaram um caminho justo. Somos, por isso, também, todos, parcialmente culpados. Embarcamos nas facilidades do momento. Bem dizia Sophia em busca “de um país liberto. De uma vida limpa. E de um tempo justo“. Não quisemos saber, havia ganhos de curto prazo a obter.


Muitos, os construtores da máquina, ficaram mais ricos e poderosos, os seus ajudantes também, os outros, nós todos, ficamos mais pobres, com menos direitos, exaustos, descrentes, sem esperança e sem ideais. Quando dermos por nós, se não acordarmos antes e é esse o objetivo da máquina montada, um dia ao abrir os olhos, perceberemos que recuamos trinta e tal anos e que estamos na década de 70, em 1976 ou 1977: sem serviços de saúde, sem serviços de educação para todos, sem estratégia nacional, sem justiça digna desse nome, sem nenhuma segurança social, sem proteção de nada, sem política de família, sem estratégia de desenvolvimento… como dizia o New York Times, uns “animais de carga” que vivem de subsídios e se deixaram enganar pelas suas facilidades.

Esperam nessa altura anunciar o fim da crise e celebrá-la, enganando tudo e todos, esperando que o alívio de ver a crise finalmente vencida nos confunda e, na confusão, não percebamos que recuamos trinta e tal anos e VENDEMOS a democracia, vendemos a LIBERDADE, vendemos o que tanto nos custou a conquistar. Esta máquina avassaladora pretende um recuo civilizacional, como se de uma guerra gigantesca se tratasse. E, de facto, é uma guerra gigantesca e silenciosa.

Acordei com um sentimento de esperança. É que esta gente que planeia estas coisas é geralmente muito pouco inteligente, muito pouco culta e não conhece a história: por isso investem pouco, cada vez menos, na cultura, isso é “estourar” dinheiro, dizem, pensam e teorizam. E a história mostra que, felizmente, no ultimo momento, no final mesmo, vem à tona a nossa humanidade, o conhecimento acumulado no nosso ADN, a nossa estrutura indelével de seres culturais, que resiste, que diz NÃO e que convence, porque está certo, os outros.

É a minha esperança. Acordei sobressaltado, mas com alguma esperança.

Acordem!

Gosto do artigo
Publicado por
Publicado em Opinião