O duradoiro presidente da câmara municipal de Viseu, Fernando Ruas, num direito que lhe assiste, é um confessado opositor da lei da Limitação de Mandatos. Por sua vontade o cargo de autarca seria talvez dinástico, só com a morte terminando.
Sem a necessária capacidade de autocrítica, própria dos inchados umbigos, olha superficialmente em redor e persiste na perpetuação de um cargo para o qual já nada tem a oferecer.
Ao fim de 24 anos seguidos como “cabeça” da edilidade, ou seja, seis seguidos mandatos, acaba de quase terminar o seu sétimo mandato recandidatando-se para o oitavo que, seguro de vencer, solenemente afirma ser o derradeiro. Ufa! Será?
Entende que ainda tem muito para fazer – o que não fez nestas quase três décadas e que agora é que vai ser.
O tempo verbal predilecto de Ruas é o futuro do indicativo, com predominância da 1ª pessoa do singular, onde o “eu” tem natural lugar de destaque: Eu farei, eu concretizarei, eu realizarei, eu implementarei, eu efectivarei, eu consumarei, eu alcançarei, eu atingirei… e por aí fora, numa retórica de vazio, sustentada não nos actos mas nas promessas repetidas de os levar a cabo.
O único óbice é o descrédito que 28 anos de presidente da autarquia viseense em si carreia. Como acreditar que é agora, se for eleito para mais quatro anos, que materializará o até aqui por fazer?
Num país com muita costa marítima, metade de Portugal confina com o Atlântico, ergue-se a faroleiro, como o líder nacional do seu partido, afirmando na apresentação da sua candidatura que “Viseu continuará a ser o farol de desenvolvimento da região Centro de Portugal.” O que não é mau para o persistente nevoeiro do alto do Montemuro e ali para os lados de Bigorne, a estremar com Lamego.
Boas palavras que, provavelmente, os seus colegas de Aveiro, de Coimbra, de Leiria, de Castelo Branco, de Tomar, das Caldas da Rainha… – todos eles municípios do Centro – não partilharão.
Querer mais “disto” não é abonatório para o visado, talvez um “lapsus linguae”, pois enquanto contração da preposição “de” com o pronome demonstrativo “isto”, remete para algo, em termos espaciais ou temporais próximos do falante, ou seja, o ministro de Tondela. “Querer mais disto” é sobre Ruas ou sobra a sua obra?
Quanto às novas ideias para o progresso de Viseu que afirma o candidato ter, remetemo-nos ao sensato cepticismo, aceitando que a esperança é a última a morrer…
Ruas promete para os próximos quatro anos:
Estafadas ideias que se perpetuam inconcretizadas mandato após mandato, sem nomear políticas concretas para as 24 freguesias do concelho de Viseu, suas parentes pobres.
Quem ainda acredita que à oitava é que vai ser?
A pouco mais de dois meses e meio das eleições autárquicas, deu agora um “ar de graça cultural” com vários espectáculos musicais no fim de semana passado.
Resta-lhe ainda a Feira de S. Mateus para promoção – por falar nisso, já terão sido apresentadas as contas da Viseu Marca, em falta desde Março passado?
Quanto ao resto… um suspiro de desalento e uma mão cheia de coisa nenhuma.
Ao fim de tantos anos, Viseu e os viseenses mereciam melhor.