Fernando Ruas, um autarca do passado, num presente vazio a afiançar um futuro promissor

O único óbice é o descrédito que 28 anos de presidente da autarquia viseense em si carreia. Como acreditar que é agora, se for eleito para mais quatro anos, que materializará o até aqui por fazer?

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  • 8:13 | Terça-feira, 15 de Julho de 2025
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O duradoiro presidente da câmara municipal de Viseu, Fernando Ruas, num direito que lhe assiste, é um confessado opositor da lei da Limitação de Mandatos. Por sua vontade o cargo de autarca seria talvez dinástico, só com a morte terminando.

Sem a necessária capacidade de autocrítica, própria dos inchados umbigos, olha superficialmente em redor e persiste na perpetuação de um cargo para o qual já nada tem a oferecer.

Ao fim de 24 anos seguidos como “cabeça” da edilidade, ou seja, seis seguidos mandatos, acaba de quase terminar o seu sétimo mandato recandidatando-se para o oitavo que, seguro de vencer, solenemente afirma ser o derradeiro. Ufa! Será?


Entende que ainda tem muito para fazer – o que não fez nestas quase três décadas e que agora é que vai ser.

Este mandato foi um “flop”. Fernando Ruas concluiu duas obras de vulto do seu antecessor, Almeida Henriques. O Mercado 2 de Maio e a Central de Camionagem. Nos quatro escoados anos não teve tempo para mais, além de alienar a “Águas de Viseu” à “Águas do Douro e Paiva”, do seu ex-colega, o socialista António Borges, num processo ainda com pouca clareza e muita prepotência perante os concelhos vizinhos de Penalva do Castelo, Mangualde e Nelas.

O tempo verbal predilecto de Ruas é o futuro do indicativo, com predominância da 1ª pessoa do singular, onde o “eu” tem natural lugar de destaque: Eu farei, eu concretizarei, eu realizarei, eu implementarei, eu efectivarei, eu consumarei, eu alcançarei, eu atingirei… e por aí fora, numa retórica de vazio, sustentada não nos actos mas nas promessas repetidas de os levar a cabo.

O único óbice é o descrédito que 28 anos de presidente da autarquia viseense em si carreia. Como acreditar que é agora, se for eleito para mais quatro anos, que materializará o até aqui por fazer?

Num país com muita costa marítima, metade de Portugal confina com o Atlântico, ergue-se a faroleiro, como o líder nacional do seu partido, afirmando na apresentação da sua candidatura que “Viseu continuará a ser o farol de desenvolvimento da região Centro de Portugal.” O que não é mau para o persistente nevoeiro do alto do Montemuro e ali para os lados de Bigorne, a estremar com Lamego.

Boas palavras que, provavelmente, os seus colegas de Aveiro, de Coimbra, de Leiria, de Castelo Branco, de Tomar, das Caldas da Rainha… – todos eles municípios do Centro – não partilharão.

O ministro de Tondela, por seu turno e uma vez que Montenegro não veio, vai mais longe na “relevância do concelho de Viseu no contexto nacional” – o que nenhum viseense conseguiu ainda vislumbrar – e, entusiasmado reitera: “Queremos mais disto. Fernando Ruas nunca está satisfeito. Tem sempre novas ideias de progresso para Viseu”.

Querer mais “disto” não é abonatório para o visado, talvez um “lapsus linguae”, pois enquanto contração da preposição “de” com o pronome demonstrativo “isto”, remete para algo, em termos espaciais ou temporais próximos do falante, ou seja, o ministro de Tondela. “Querer mais disto” é sobre Ruas ou sobra a sua obra?

Quanto às novas ideias para o progresso de Viseu que afirma o candidato ter, remetemo-nos ao sensato cepticismo, aceitando que a esperança é a última a morrer…

Ruas promete para os próximos quatro anos:

“A Criação do Centro de Artes e Espetáculos de Viseu, a construção de novas Unidades de Saúde Familiar, a Construção da “Cidade do Vinho” (a Cidade do Vinho vai reunir no mesmo espaço a sede da CVR Dão, os laboratórios, um Welcome Center da rota do vinho do Dão e um museu ou centro interpretativo do vinho do Dão, a urbanização de novos troços da Avenida da Europa e corredores adjacentes; a requalificação de zonas industriais e expansão de áreas empresariais; a aposta reforçada na mobilidade urbana e na transição energética; mais habitação acessível, em articulação com os programas nacionais; e o reforço da ligação de Viseu ao mundo académico, com a criação de novas residências universitárias.”

Estafadas ideias que se perpetuam inconcretizadas mandato após mandato, sem nomear políticas concretas para as 24 freguesias do concelho de Viseu, suas parentes pobres.

Quem ainda acredita que à oitava é que vai ser?

A pouco mais de dois meses e meio das eleições autárquicas, deu agora um “ar de graça cultural” com vários espectáculos musicais no fim de semana passado.

Resta-lhe ainda a Feira de S. Mateus para promoção – por falar nisso, já terão sido apresentadas as contas da Viseu Marca, em falta desde Março passado?

Quanto ao resto… um suspiro de desalento e uma mão cheia de coisa nenhuma.

Ao fim de tantos anos, Viseu e os viseenses mereciam melhor.

 

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Publicado em Opinião