Desenganem-se, a culpa não é da Mariana Mortágua 

Se também considero que a Mariana Mortágua já deveria ter abandonado a liderança do Bloco, porque um bom político também se vê na forma como ele lê a sociedade (e claramente que a Mariana é, atualmente, um ativo tóxico à esquerda)...

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  • 15:19 | Quarta-feira, 22 de Outubro de 2025
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Vemos todos os dias um ataque cerrado à Mariana Mortágua e ao Bloco de Esquerda. Claramente que se transformou no odiozinho de estimação do país, onde a crítica fácil é hegemônica, seja nas redes sociais, seja no dia a dia, onde a brejeirice reina.

Sou o primeiro a criticar o funcionamento interno suicida do Bloco (que é o principal culpado da situação atual do partido), que desde 2019 está a rebentar com a organização. E não falamos só de resultados eleitorais, falamos também da quantidade enorme de pessoas com capacidade que se aproximaram ao partido e que se afastaram tão rápido como se aproximaram, que olhavam para o Bloco não como um clube só de amigos, mas sim como uma ferramenta para mudar a sociedade e o país. E isto deixou de ser assim. 

Se também considero que a Mariana Mortágua já deveria ter abandonado a liderança do Bloco, porque um bom político também se vê na forma como ele lê a sociedade (e claramente que a Mariana é, atualmente, um ativo tóxico à esquerda), também acho que foi um erro assumir a liderança num ambiente de crescente polarização onde a extrema direita está em vantagem, e em muita vantagem. A derrota era previsível. O Bloco não teria capacidade para ganhar a luta aos extremos (isto não são teorias, é a realidade que comprova os factos), mas sim deveria ter uma liderança mais apaziguadora e mais empática.

Gostando da Mariana, reconhecendo-lhe capacidade política e de intervenção (a mim também me representou na Flotilha), não me parece que tenha sido a ficha de xadrez adequada para a situação política nacional. Se a Mariana é claramente a vítima nesta conjuntura, saindo, não assume a derrota, até porque a história dar-lhe-á a razão, sem dúvida.


A Mariana Mortágua, não sei se após as legislativas, mas sim, após estas autárquicas, deveria perceber que é a cara de um projeto, coletivo sim, mas de um projeto onde ela é a principal expoente. Não se pode apostar na pessoalização da Catarina (2015-2019) quando a coisa corre bem, mas quando corre mal, a culpa já não é da coordenadora, mas sim do coletivo. Deveria pôr o lugar à disposição, no entanto, é necessário perguntar se há algum ou alguma corajosa para assumir a liderança de um partido em clara rota descendente. E essa ninguém tira à Mariana, teve a coragem de assumir o Bloco, enquanto os verdadeiros maestros da orquestra preferem trabalhar nos bastidores, sem se exporem.

Em 2019, com a euforia do reforço eleitoral que obteve em 2015, o Bloco cegou-se e começou uma luta interna suicida que levou o partido ao estado em que está hoje. Ok, a conjuntura política nacional/internacional ajuda, mas o Bloco poderia estar mais resiliente e menos enfraquecido do que está neste momento. Tendo em conta que são sucessivos erros de avaliação estratégica e consequente ação política. 

Isto não é mais uma crítica à Mariana, é todo o contrário. É ter a noção que a Mariana assumiu o partido que representa, mal aconselhada e dinamitada por quem realmente trabalha nos bastidores, com quem, como já referi, tem decidido mal, avaliado mal e tem intervindo mal.

No partido, o bolhismo, o interesse de falar só para alguns é quem reina: como é possível haver um comunicado oficial de uma estrutura distrital onde se congratulam por não ter tido candidatura à Câmara Municipal de uma capital de distrito porque isso deu a vitória ao PS? Se a estratégia de puxar galões na Assembleia Municipal e nas Assembleias de Freguesia, de reforçar a importância destes órgãos foi uma estratégia acertada, claramente que a avaliação sobre os resultados eleitorais foi um fiasco e demonstrativo do bolhismo onde se vive. Alguém acredita que se a decisão de não se candidatar à Câmara Municipal de Viseu fosse estratégica e premeditada, ela não deveria ter sido anunciada nas pré-eleições apelando ao voto contra o conservadorismo e o marasmo político onde estava enfiada a cidade? Há coisas que custam a entender, sinceramente.

O Bloco já foi o projeto político que trabalhava causas comuns, juntos das pessoas, para ser um projeto de algumas pessoas. As evidências são claras e a reflexão é necessária porque eu não acredito que o Bloco esteja acabado, mas sim está bastante moribundo em situação muito crítica e precisa rapidamente de mudar a forma de pensar e atuar junto da sociedade.

 

Diego Garcia

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Publicado em Opinião