Com a regionalização, o Censo 2021 seria diferente?!…

Faz-se apelo e incentiva-se a vinda para o Interior sem cuidar dos que cá estão. É dramático para quem tem a ousadia e a resiliência para aqui viver, trabalhar e produzir riqueza. Premeia-se a vinda, mas não se cuida de quem cá está e paga a água e a electricidade mais caras e vê fugir os serviços públicos. Fecham tribunais, centros de saúde, repartições de finanças, escolas, postos de correios, etc.

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  • 10:24 | Sexta-feira, 30 de Julho de 2021
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Dei comigo a pensar se o Interior do País não poderia ser diferente, em termos de demografia se o SIM tivesse ganho no referendo à Regionalização?!…

Ganhou o NÃO em 1998 inviabilizando as Regiões Administrativas, cuja lei-quadro foi aprovada, por unanimidade, em 1991 na Assembleia da República. 63% dos portugueses preferiram o modelo centralista que continua em discussão agora por causa da distribuição dos fundos europeus.

Deixem lembrar a industrialização nos anos 50 e 60 do século passado. Hoje, tal política de condicionamento industrial não era possível, mas vale a pena refletir sobre alguns dos factos:

• Anos 50, do século XX, Portugal importava praticamente todos os automóveis, desequilibrando a balança comercial.


• Com o Decreto-Lei n.º 44104, de 1961, limitou-se a importação a 75 automóveis por ano, por importador/marca, a partir de Janeiro de 1963. Esta restrição induziu a necessidade de se criarem linhas de montagem nacionais.

• Pelo “Art.º. 5.º – Os terrenos para as instalações de produção não poderão ficar situados em Lisboa, Porto ou concelhos limítrofes, considerando-se os concelhos ribeirinhos do estuário do Tejo como limítrofes de Lisboa; deverão ter ligação direta a uma linha férrea de via larga e ser aprovados pela Direcção-Geral das Alfândegas.”.

• Janeiro de 1964 a Renault Lusitana, na Guarda, produziu cerca de 200 mil Renault 4L, a uma média de 2 por dia.

• Fevereiro de 1964, em Mangualde, a Citroen, produzia o histórico 2CV, à média de 2 por dia, 472 carros no primeiro ano.

Com os resultados do Censo 2021 o assunto volta à ordem do dia, valendo a pena perguntar: com a Regionalização, o futuro teria sido diferente?!…

 

 

A resposta é difícil. Certo é que sem a Regionalização, os constrangimentos são significativos. Faltam políticas de atractividade de novos investimentos que permitam fixar quadros técnicos em todo o Interior do País e não apenas nas áreas urbanas, em detrimento do mundo rural e do seu povoamento com políticas de mobilidade, habitação, educação, saúde e reabilitação urbana e rural. Hoje, temos uma Universidade em Aveiro, um Instituto Politécnico em Viseu, uma Universidade em Coimbra e outra na Beira Interior que formam qualificados técnicos superiores, subaproveitados – que sofrem uma sangria de jovens que não nos orgulha. Hoje, de Viseu ao Porto são 60 minutos. A pior ligação é Viseu-Coimbra. E será que vamos continuar a discutir os 12 quilómetros entre Nelas e Mangualde?! Hoje, discute-se o transporte ferroviário: não se fez a eletrificação da Linha da Beira Alta mercadorias e passageiros, mas prenuncia-se um eixo ferroviário Aveiro-Viseu-Vilar Formoso, cuja relevância estratégica seria evidente.

 

 

Faz-se apelo e incentiva-se a vinda para o Interior sem cuidar dos que cá estão. É dramático para quem tem a ousadia e a resiliência para aqui viver, trabalhar e produzir riqueza. Premeia-se a vinda, mas não se cuida de quem cá está e paga a água e a electricidade mais caras e vê fugir os serviços públicos. Fecham tribunais, centros de saúde, repartições de finanças, escolas, postos de correios, etc.

Instalou-se a ideia de que viver no campo é importante, sim, mas mais para garantir festivais e cartas gastronómicas, roteiros paisagísticos e termais; espaços de lazer; os vinhos, enchidos, queijos, cerejas, maçãs e castanhas; e o porco assado no espeto com arroz de feijão; papas de milho e carolos… Adiante.

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Publicado em Opinião