Coesão, esse Conceito Fleumático

Esta forma de investir demonstra o porquê de termos terras abandonadas que servem de pasto para incêndios que, agora, milagrosamente, serão “limpas” (como se isso fosse económica e ecologicamente possível).

  • 20:20 | Sexta-feira, 06 de Abril de 2018
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Nos últimos tempos têm-se sucedido os anúncios de investimentos, mais ou menos avultados, para fazer face a situação depauperante com que muitos serviços se deparam. Um país intervencionado pela Troika, sem dinheiro, e um governo mais troikista que a Troika, com uma política mirrante e concentradora de riqueza nuns quantos, legaram-nos isso.

Na área dos transportes e obras públicas, esses anúncios têm sido particularmente profusos. Centenas de milhões de euros para o Metro de Lisboa, milhões para a Transtejo e Soflusa, milhões para a Carris e mais três linhas para o Metro do Porto. Há até dinheiro para manter a Ponte 25 de Abril, para poupar a LusoPonte a tais gastos. Tudo somado e quase que temos o dinheiro suficiente para tapar uns 10% do BES/NB.

Em todos estes anúncios, ainda por concretizar, assistimos ao perpetuar de uma tendência muito “nossa” de concentrar investimentos nos dois polos urbanos mais significativos, deixando à mingua o restante país. Essa política, como não podia deixar de ser, tem consequências.


Ainda esta semana houve mais um descarrilamento na Linha da Beira Alta, desta feita na estação de Canas-Felgueira. Esta importante via supostamente iria sofrer obras de modernização de mais de 900 milhões de euros, mas o anúncio, que já vem de 2013, teima em não se concretizar. O abandono é de tal ordem que, aparentemente, a Infraestruturas de Portugal já nem o nome das estações conhece. Esta estação localizada em Canas de Senhorim e que também serve as Caldas da Felgueira, curiosamente, encontra-se fechada com blocos de cimento. Esperemos que não seja necessário um novo “acidente de Alcafache” para a obra avançar.

Estes anúncios e esta forma de distribuir recursos públicos, evidencia claramente o porquê de sermos, cada vez mais, um país desigual, com ricos mais ricos e pobres mais pobres, com regiões cada vez mais desertas e outras cada vez mais atafulhadas de gente.

Esta forma de investir demonstra o porquê de termos terras abandonadas que servem de pasto para incêndios que, agora, milagrosamente, serão “limpas” (como se isso fosse económica e ecologicamente possível).

Até o recente anúncio de apoios ao sector cultural vem demonstrar esse centralismo gravítico, qual buraco negro que tudo suga. Do pouco dinheiro disponível, a região com mais investimento per capita (e no passado foi igual) é, sem surpresas, Lisboa e Vale do Tejo. Mais do dobro da Região Centro, por exemplo.

Os investimentos anunciados na capital são com certeza necessários e fazem todo o sentido, mas não devem ter nenhum tipo de privilégio se quisermos ter um país mais coeso. É que Portugal pedir em Bruxelas dinheiro para políticas de coesão europeia e internamente fazer exactamente o contrário, é além de hipócrita, idiota.

Curiosamente também, esta semana saiu um estudo que nos demonstra que Lisboa e Porto têm pelo menos 5 x mais turistas do que habitantes e, como bons anfitriões que somos, há que melhorar as nossas “salas de visitas”. Já no interior “imaginado”, continuamos a pagar as portagens mais caras do país, porque prevalece o principio do utilizador pagador e, quando se fala na construção do IP3 ou na conclusão do IC12, o mesmo principio é sempre aventado.

Vidas….

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Publicado em Opinião