“As coisas mais difíceis de falar são as que nós, mesmos, não conseguimos entender.”

Aos olhos dos pequenos, nós somos super heroínas, que nada nem ninguém demove. Se se perder um brinquedo ouve-se o chamado, mãaaaae. Como se a culpa fosse nossa, do brinquedo que estava na mão há um minuto atrás ter desaparecido.

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  • 16:24 | Segunda-feira, 17 de Janeiro de 2022
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Este Domingo aconcheguei-me no sofá com o Livro “A filha perdida” de Elena Ferrante. Que também já chegou ao Cinema, pela mão da realizadora Maggie Gyllenhaal e que conta com Olivia Colman, Jessie Buckley, Dakota Johnson nos principais papeis. Já tendo vencido vários prémios da sétima arte.

Vamos ao conteúdo do livro, na verdade, parte dele, porque é cheio de mensagem carregadas que precisam de ser digeridas com tempo.

Primeiro todas as mulheres, sejam elas, mães ou filhas vão-se identificar, com os acontecimentos da trama, com os pensamentos da personagem principal, Leda e até com o desenrolar da história.


O desejo de qualquer mãe é querer ser vista, pelos filhos, como uma pessoa e não como uma função. Porque as mães também precisam comer, beber água, tomar banho, descansar, entre muitas outra coisas. Diz a autora do livro, através de Leda, personagem de uma mulher divorciada, professora universitária “que parvoíce querer falar de si aos seus filhos, antes que eles cheguem aos 50 anos. Querer ser vista por eles como uma pessoa e não como uma função”. É uma das verdades dolorosas deste livro. Porque nenhum filho vai entender as necessidades de uma mãe, antes que o sinta na pele a responsabilidade e a exigência.

 

 

Porque mãe tem de ter pilhas Duracell, não pode fraquejar, e quando se senta no sofá, coisa rara, um filho chama e aqueles 3 segundos nem permitiram que a coluna se ajeitasse.

Por outro lado, as mães anulam-se e sentem-se culpadas de, em algum momento, olharem para si, em detrimento de fazer uma vontade aos seus filhos. Por vezes, deixam de tomar o banho quente, com tempo, para satisfazer os caprichos da criança.

Aos olhos dos pequenos, nós somos super heroínas, que nada nem ninguém demove. Se se perder um brinquedo ouve-se o chamado, mãaaaae. Como se a culpa fosse nossa, do brinquedo que estava na mão há um minuto atrás ter desaparecido.

A mulher desvaloriza-se muito ao ser mãe. Porque a exigência desta função é não falhar a vida toda. Deixa de se auto amar e passa a amar a criança que saiu do nosso ventre, de forma incondicional. Mas, não seria importante ter tempo para se dar amor a si mesma? Será que temos de ver mães, que já não arranjam o cabelo, descuram a auto estima, deixam de ler, de ir ao cinema, de namorar, de dormir sem sobressalto?

Porque não posso ver outras cores, outros afazeres, outras paixões, mesmo continuando a tentar ser uma boa mãe?

“No estilo inconfundível que a tornou conhecida no mundo todo, Elena Ferrante parte de elementos simples para construir uma narrativa poderosa sobre a maternidade e as consequências que a família pode ter na vida de diferentes gerações de mulheres”.

A prosa de Ferrante é extraordinária e levou-me a pensar que eu amo o meu filho, sou grata à vida por me dar esta oportunidade de ser mãe, e grata ao meu filho pelo que me faz sentir e desafia. Mas, eu também tenho de ser mulher. Não quero chegar lá na frente e achar que o meu filho foi a forma de me anular, no passado.

Descubra e reflita sobre esta história, comovente, de uma mulher que precisa de se recuperar e confrontar o seu passado, durante umas férias na praia. Onde quem a rodeia a leva até aos pontos inquietantes da sua própria vida.

 

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