Animalidades ou talvez não…

O candidato tacteante primeiro, subiu o tom ao perceber com que labruscos acobardados lidava. E deu às sugestões ordens e às ordens exigências esdrúxulas enquanto os pinguins, em parada, de sobrecasaca lustrada pela subserviência, ovacionavam com as barbatanas luzidias e viscosas.

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  • 17:18 | Quinta-feira, 21 de Janeiro de 2021
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Os animais que estavam lá fora olhavam dos porcos para os homens, dos homens para os porcos e novamente dos porcos para os homens; mas já não era possível dizer quem era quem…”

Georges Orwell, “O Triunfo dos Porcos”

Sem pudor nem resistência, os porcos, alarves, cevados e róseos, triunfam. Nos seus chiqueiros fétidos, em varas prósperas, erguem seus estrídulos roncos enchendo o ar com o peso adjectivo do seu recém-descoberto poderio. São fortes, os porcos. Ou então, os carneiros são de tal forma frouxos que se submetem passivos, alheios e espoliados ao coro de eunucos mal-cheirosos que se julgam, nédios, um coral de rouxinóis. Razão tinha o burro Benjamim. Mas era burro.


O candidato tacteante primeiro, subiu o tom ao perceber com que labruscos acobardados lidava. E deu às sugestões ordens e às ordens exigências esdrúxulas enquanto os pinguins, em parada, de sobrecasaca lustrada pela subserviência, ovacionavam com as barbatanas luzidias e viscosas.

Esta que foi outrora uma terra de searas férteis e celeiros atulhados é hoje a arca rota dos nefandos ratos de Camus. A leira viçosa é hoje o solo sáfaro onde os pinguins e outros malfeitores, a esmo, impunes, clamam sua vil vitória. Este país de nautas e descobridores de mundos por achar é hoje um canteiro murcho regado com cal e sal.

E quem haveria de dizer que os suínos e as ciconiformes aves marinhas, nos chafurdos, procriariam “porcopingues” gerados na contra-natura hedionda da lubricidade bestial? António Nobre, envergonhado, rasura: “Georges foge do meu país de marinheiros!”. Pessoa, sem Gama ao leme, na nau atópica, três vezes, enfático, se naufraga nas cavernas de um mar sem fundo. E hoje, o Vº Império, que não viu luz senão nos olhos de Bandarra, jaz morto e apodrece nos areais de Quibir, correndo sobre o Tejo manso, numa foz infestada pelos esgotos fecundos do Terreiro do Paço.

Além, sobre a ramaria umbrosa da figueira, um povo plácido joga dominó. Deformado das orelhas pendentes e moucas, crê que a gritaria dos espoliados é um fado canalha da Hermínia Silva ou da Maria da Fé acompanhado das graçolas ingénuas de um Costa do Castelo ou Ribeirinho.

Heróis do mar, rendido povo a uma vileza tão brutal…

E porém, lá longe, mais um “banqueiro anarquista” abre o saco negro para a esmola dos subtraídos. Nos salões faustosos e rútilos dos ritzes, encafuado num fraque plagiado pelos pinguins, ele executa uma marcha fúnebre e virtuosa num stradivarius lancinante, enquanto no tapete fofo e escarlate, na lata sem fundo, os desfilantes, chapéu na mão e cerviz vergada, pedem licença para depositar o óbulo tilitante dos solidários com as desgraças de mais ali-babás.

 

 

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Publicado em Opinião