A síndrome de Calimero

O líder do Chega, esteiado na estrondosa vitória que o fim do dia de ontem traria, lesto se deu a Madrid para festejar condignamente, com pompa, circunstância e adequadas discursatas o grande resultado do amigo Abascal, a derrota de Sánchez e, imagine-se também, a derrota de António Costa. Afinal ainda estamos sob dominação filipina, o 1640 não resultou e somos uma província espanhola.

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  • 18:46 | Segunda-feira, 24 de Julho de 2023
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Em Espanha, contrariamente às sondagens que davam uma vitória com maioria absoluta ao PP de Alberto Feijóo, este foi o vencedor das eleições, mas com uma curta diferença de 300 mil votos para o PSOE, num universo de mais de 37 milhões de eleitores.

Cabe-lhe agora formar governo. Com a estrondosa derrota do seu putativo aliado, o partido Vox, encabeçado por Santiago Abascal e a perda de 19 deputados, esta previsível aliança tornou-se absolutamente inútil, pois mesmo juntos não conseguem criar uma exequibilidade governativa.

Porém, e face ao cenário criado, Feijóo reclama aos 4 ventos que lhe permitam formar o ansiado governo e avisa, que se tal não acontecer, os espanhóis estão a ser vítimas da esquerda espanhola. Que, e no seu entender, decerto lhe devia dar os trunfos todos do baralho para ele fazer um brilharete.

O líder do Chega, esteiado na estrondosa vitória que o fim do dia de ontem traria, lesto se deu a Madrid para festejar condignamente, com pompa, circunstância e adequadas discursatas o grande resultado do amigo Abascal, a derrota de Sánchez e, imagine-se também, a derrota de António Costa. Afinal ainda estamos sob dominação filipina, o 1640 não resultou e somos uma província espanhola.


Ao fim da noite, Abascal sobre a derrota (de 52 para 33 lugares no parlamento) apregoou ser vítima da diabolização da comunicação espanhola, a tal que lhe dava trono e pódio uns dias antes e entretanto carpia-se “Quero destacar o que é uma má notícia para muitos espanhóis: Pedro Sánchez, mesmo perdendo as eleições, pode bloquear uma investidura. E, pior ainda, Pedro Sánchez pode até mesmo ser investido com o apoio do comunismo, do independentismo golpista e do terrorismo”.

O seu colega de ideologia, consternadíssimo, terá ficado com ele a festejar com umas jarras de sangria (desatada, decerto)…

Hoje, Ventura, virando o bico ao prego com o contorcionismo do costume, já veio de trombeta troante reiterar a derrota de Costa e o grande resultado de Feijóo. Montenegro está na mesma onda que Ventura, evidenciando que em matéria eleitoral pouco os separará e que, na hora da verdade, é político para derrubar todas as baias e fazer um alegre matrimónio de conveniência com o Chega.

Em Portugal e durante uma legislatura, criou-se a “geringonça”, entre o PS, o PCP e o BE que permitiu uma pacífica e profícua legislatura. Nos Açores, a “geringonça” insular conseguiu pôr a governar o PSD aliado com o Chega e a IL No país vizinho não sabemos o que vai acontecer, sendo provável que uma aliança do arco de esquerda permita formar governo com maioria absoluta, recolocando Sánchez no palácio de Moncloa.

E aqui reside o busílis da questão… sem esta maioria absoluta, fruto de coligação ou não, ninguém consegue governar convenientemente, pois a oposição pode inviabilizar toas as propostas apresentadas. Queiramos ou não, concordemos ou discordemos, a democracia funciona assim, com estas e outras regras, que democraticamente devemos aceitar.

Se tal suceder, Feijóo pode fazer todas as rábulas de Calimero, seguro podendo estar de que estas não o levarão a lado algum.

 

(Fotos DR)

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