Fico de queixo caído com as súbitas metamorfoses e as camaleonices de André Ventura. Ele é autarca, deputado, candidato a PM e finalmente pretendente a PR. Tudo no mesmo ano. O homem é um portento de força e patriotismo. Vai morrer às mãos da sua ganância e cobiça.
No entanto, esta disponibilidade não é sinal de interesse pela causa pública, é demonstração de fraqueza. A revelação de que o partido é ele e a sua arenga, o seu espalhafato, os seus decibéis. E da sua desmedida ambição.
Ventura é um ambicioso e tem um projecto exterminador de tudo o que é diferente e ofende os seus princípios ultra-conservadores. Olha para as diferenças como uma ameaça, reage mal ao contraditório, não aprecia a conciliação.
Já quando era comentador desportivo, apanhado várias vezes em contra-pé e na mentira, vestiu o fato de palhaço rico do circo, o homem que, com sobranceria, diz banalidades.
Ventura tem, porém, uma qualidade que não é irrelevante e que mostra o instinto político. Apercebendo-se do descontentamento silencioso e crescente instalado na sociedade, culpa dos políticos e dos seus facilitismos, e de um espaço que, por conforto, estava por ocupar, cavalgou esse ressentimento. Quero eu dizer que explorou o desencanto e se aproveitou da situação. Não trouxe ideologia, trouxe populismo, não trouxe argumentos, trouxe bulha, não trouxe análise, trouxe terrorismo, não trouxe currículo, trouxe ameaça, não trouxe seriedade, trouxe registos criminais, não trouxe esfregona, trouxe um balde de água suja. E Barbies. E desempregados, ainda atordoados com a lotaria, gente para quem a política é só um livro de cheques e um salva-vidas. E alguns forcados.
Ventura quer chegar ao poder, e vai chegar lá, ainda que alguns românticos e autistas insistam no oposto. Com as promessas que tem feito e com as expectativas que criou nos eleitores, não se demorará muito pelos cadeirões. Não tem densidade, nem profundidade, itens que substitui por ódio e vingança. Será banquete de curta duração.
Os políticos actuais têm um papel decisivo no resolver desta equação. Porque essa asneira tola de o povo ser ignorante, quando faz escolhas que nos desagradam, é uma excrescência e não tem cabimento algum