A brincar é que a gente se entende…

  Dantes as crianças brincavam na rua, soltas. Aprendiam a descobrir o mundo, a resolver as suas pequenas contendas, cresciam em tamanho e aprendizagens e salvo mais joelho esfolado menos cabeça partida, a hora de brincar era a hora de brincar na rua. Aprendiam a lidar com novos amigos, novas dificuldades e mexiam-se. Sobretudo mexiam-se […]

  • 11:56 | Sábado, 10 de Março de 2018
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Dantes as crianças brincavam na rua, soltas. Aprendiam a descobrir o mundo, a resolver as suas pequenas contendas, cresciam em tamanho e aprendizagens e salvo mais joelho esfolado menos cabeça partida, a hora de brincar era a hora de brincar na rua. Aprendiam a lidar com novos amigos, novas dificuldades e mexiam-se. Sobretudo mexiam-se e sobretudo viviam a novidade como natural.

O mundo mudou, entretanto. E com ele as crianças foram ficando em casa, em ATL´s, em prolongamentos de horários. Na rua não, porque a rua se tornou perigosa, as famílias mudaram e os avós, tios e padrinhos e empregadas desapareceram do quotidiano das nossas crianças, juntamente com as famílias alargadas e as mães disponíveis com todo o tempo do mundo.


As cidades encheram-se de gente, gente trancafiada em apartamentos, em famílias cada vez menores, cada vez mais escravizadas por horários de trabalho desumanos, e as cidades esqueceram-se dos parques infantis, das zonas verdes, das urbanizações pensadas para permitir às crianças brincar na rua, com o digital a substituir insidiosamente o lugar do outro, o lugar dos cheiros, da pele, do calor e do frio, o lugar das aprendizagens feitas de ver os outros olhar, de sentir o tom da voz, de testar a sintonia entre o discurso e a atitude do outro.

Daí até à realidade actual foi um pulinho de décadas, onde andámos distraídos a ser os mais produtivos, os que tinham prestações de casa maiores e durante mais tempo, os que menos tempo tinham para viver para os outros, mesmo que os outros fossem as nossas crianças. Nesse interim, as crianças portuguesas tornaram-se:

DAS MAIS SOBRECARREGADAS COM HORAS LECTIVAS, nos países da OCDE; DAS QUE APRESENTAM MAIOR EXCESSO DE PESO, uma em cada três crianças portuguesas, segundo dados da OMS; DAS QUE PASSAM MAIS TEMPO POR DIA EM FRENTE A UM ÉCRAN; em média, 2h30 por dia, segundo o estudo EPHE de 2015.

E agora?? Agora, mais uma vez, Leiria dá uma resposta inovadora. A resposta chama-se Brincar de Rua e é um projecto genial da Ludotempo, que concluiu a sua fase piloto – de 12 semanas – com crianças dos 5 aos 12 anos a brincar todas as terças-feiras no Bairro dos Capuchos. Neste projecto – Finalista dos 10 Melhores Projetos 2016 Faz Ideia da Gulbenkian – a missão principal é devolver o espaço público às crianças, eliminando as barreiras de (in)segurança percepcionadas pelas famílias. Como?

Tudo explicadinho em

Este é o projecto de Leiria para o mundo, que mais precisa de atenção, empenhamento colectivo e ajuda. Quando nos dizem que não é possível mudar o mundo, lembro-me sempre do início dos Concertos para Bebés, há mais de 20 anos em Leiria e do incrível caminho percorrido. Agora, é a vez de outra ideia genial fazer o seu percurso, para bem de toda uma geração. Vão ficar a olhar ou vão participar?

Para saber mais sobre o que pode mudar a vida das crianças também em Viseu– as nossas e as dos outros – espreite o site, junte os conhecidos do bairro e traga as crianças para o lugar de onde nunca deveriam ter saído.
Brincar? Brincar é na rua!

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