A maior anomalia ou até aberração tornam-se triviais e corriqueiras quando, dia após dia, se repetem, assim se entrosando na banalidade dos quotidianos.
Há cada vez mais zonas do planeta onde as inundações, os incêndios, os ciclones e os vendavais se sucedem de forma devastadora, deixando à sua passagem apocalípticos cenários de destruição, para os quais olhamos, nos ecrãs, entre o desfastio e o bocejo.
Ou seja, com a vulgaridade das ocorrências e dos fenómenos, o nosso organismo saturado torna-se indiferente ao mal dos outros, ao seu sofrimento, à sua morte. Aconteceu o mesmo nos campos de concentração nazis onde a maior e mais diabólica das malignidades se tornou corriqueira e o pão nosso de cada dia.
O primeiro ministro acha normal, a ministra da Saúde acha natural, os utentes, habituados, acham banal. A indignação acomodou-se.
Provavelmente é isto mesmo que se pretende atingir e, através desta indirecta diabolização, paulatinamente, levar os portugueses a acharem a solução na saúde privada, que aguarda serenamente que 10 milhões de fregueses lhes venham cair no colo.