A banalização do mal

O primeiro ministro acha normal, a ministra da Saúde acha natural, os utentes, habituados, acham banal. A indignação acomodou-se.

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  • 12:33 | Domingo, 20 de Julho de 2025
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A maior anomalia ou até aberração tornam-se triviais e corriqueiras quando, dia após dia, se repetem, assim se entrosando na banalidade dos quotidianos.

É o que acontece com as guerras sem fim à vista. As maiores carnificinas deixam de nos abalar e desassossegar pelo modo iterativo como nos entram através das tv’s portas adentro e pela profusão de comentários que sobre elas ouvimos, servidos à grosa e embrulhados em parda costaneira.

Há cada vez mais zonas do planeta onde as inundações, os incêndios, os ciclones e os vendavais se sucedem de forma devastadora, deixando à sua passagem apocalípticos cenários de destruição, para os quais olhamos, nos ecrãs, entre o desfastio e o bocejo.

Ou seja, com a vulgaridade das ocorrências e dos fenómenos, o nosso organismo saturado torna-se indiferente ao mal dos outros, ao seu sofrimento, à sua morte. Aconteceu o mesmo nos campos de concentração nazis onde a maior e mais diabólica das malignidades se tornou corriqueira e o pão nosso de cada dia.


Em Portugal, no domínio da SNS, onde cada dia emerge novo escândalo e a mais funesta novidade, já nenhum português estranha as aldrabices financeiras, a incompetência, o alheamento de quem dirige, a sucessão de lóbis infractores e… as dezenas de urgências de portas fechadas aos utentes, contra as quais tanto clamava Luís Montenegro quando era oposição, agora aparentando uma soberana indiferença a tudo quanto de disruptivo acontece neste contexto por mão e via da indiligência e pouca competência da ministra da Saúde, que a cada dia que passa mais se enagalha num encadeamento de impunes “inconseguimentos” sem fim à vista.

O primeiro ministro acha normal, a ministra da Saúde acha natural, os utentes, habituados, acham banal. A indignação acomodou-se.

Provavelmente é isto mesmo que se pretende atingir e, através desta indirecta diabolização, paulatinamente, levar os portugueses a acharem a solução na saúde privada, que aguarda serenamente que 10 milhões de fregueses lhes venham cair no colo.

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Publicado em Opinião