Kit de indignação

Sensibilizar a população é essencial. Treiná-la, pondo em prática essa sensibilização é imperioso. Mas parte integrante da sensibilização é a responsabilização de todo os cidadãos.

  • 11:10 | Sábado, 27 de Julho de 2019
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O país acordou indignado porque umas golas dadas pela Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil eram feitas de poliester. Todos concordaremos que combinar poliester com incêndios não será a melhor opção. Mas para que distribuir estas golas?

Passando ao lado da já costumeira suspeita do ajuste directo e do valor comprado, se o Estado tem obrigação de dar kits de protecção contra os incêndios florestais a aldeões supostamente em risco, porque ainda não foram distribuídos, gratuitamente, kits anti-radiação para população da Urgeiriça/Canas de Senhorim e arredores?

Para quando a distribuição de kits anti-sismo para Lisboa e outra zonas susceptíveis?


Para quando kits anti-tsunami para o Algarve?

Para quando kits anti-poluição para Estarreja e por aí fora?

Para quando kits anti-ruptura de barragens para Mortágua?

Sensibilizar a população é essencial. Treiná-la, pondo em prática essa sensibilização é imperioso. Mas parte integrante da sensibilização é a responsabilização de todo os cidadãos. Dar-lhes consciência, sem margem para dúvida, que a segurança de cada um de nós também passa pela acção individual de cada um. Não é só a atravessar a estrada que precisamos ter cuidado. Muitos dos riscos advêm ou são agravados por comportamentos imprudentes (queimas, por exemplo).

Distribuir brindes, tipo campanha eleitoral, acaba por desresponsabilizar individualmente o cidadão e dar a falsa sensação de que é o Estado, por via dos Bombeiros e diversos Agentes de Protecção Civil, que é o ÙNICO responsável pela segurança individual de cada um –  não é.

Estes brindes são isso mesmo – brindes, essencialmente inúteis que alimentam e advêm dessa grande fogueira consumista que oxida irremediavelmente o ambiente.

Quanto às golas, tão polémicas, elas servem para o mesmo que um lenço ou uma tshirt (molhada de preferência) que qualquer um tem, mas muito melhor porque devem ser em algodão. Elas serviriam para fugir do fogo e não para o debelar. Servem para não inalar tanto fumo quando se tenta, de forma controlada, evacuada uma aldeia, sair de uma zona com fumo. Não servem para combater incêndios.

Se os indignados acham que há risco do poliester arder então que vão ver a que temperatura o faz. E não experimentem, já agora, inalar ar a essa temperatura (sem fumo e poluentes) porque garantidamente arranjam uma grave queimadura nos pulmões e tracto respiratório. E se estão tão preocupados com possibilidade de a gola arder, não se esqueçam do resto da roupa, que, vá-se lá saber, o Estado não paga e não distribui no kit. É que com a cobertura mediática que é habitual nos incêndios ainda nos arriscávamos a ver cidadãos a fugir em pelota apenas com a gola de poliester e isso sim seria algo capaz de arruinar as redes sociais.

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Publicado em Opinião