Porque é que tantos políticos, hoje, mentem tanto?

A 16 de Novembro de 2008 escrevi e publiquei algures este artigo. Porque o julgo actual, sete anos volvidos, faço aqui a sua re-publicação. … Porque é que tantos políticos, hoje, mentem tanto? 1º Até devem ser pessoas de bem. Gente com família, filhos a crescer ou crescidos, valores e crenças. Porém, viram políticos, membros […]

  • 22:06 | Segunda-feira, 31 de Agosto de 2015
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A 16 de Novembro de 2008 escrevi e publiquei algures este artigo.
Porque o julgo actual, sete anos volvidos, faço aqui a sua re-publicação.

Porque é que tantos políticos, hoje, mentem tanto?
1º Até devem ser pessoas de bem.
Gente com família, filhos a crescer ou crescidos, valores e crenças.
Porém, viram políticos, membros de um qualquer governo, e cedo se apercebem que há um mundo virtual e um mundo real. Que o primeiro comanda o segundo, que o segundo perdeu importância.
2º Até devem ser pessoas de bem.
Porém, aperceberam-se que nas governanças, primeiro que o fazer está o dizer que faz, primeiro que a verdade do feito, está o cinismo, bem orientado, daquilo que a massa quer ouvir.
3º Até devem ser pessoas de bem.
Mas, desde que a publicidade virou ciência e a psicologia estuda os desejos e as motivações das massas; desde que a comunicação social se tornou o primeiro poder, os membros da governança perceberam que se deviam rodear, mais do que de especialistas nas áreas específicas das pastas que detêm, de especialistas em audiências e em manipulação de verdade. Praticar uma langage de bois, como diria o velho Barthes, pela qual, sempre, se visa dar caução nobre a real cínico, pelo menos!
Perceberam que a massa está cada vez mais acrítica.
Perceberam que o colectivo, por ausência de pensamento próprio, vive da macro-sacralizada-incontestada opinião feita dos gurus do tempo.
Perceberam que aquilo que é dito de momento, perante as câmaras, microfones ou a jornais de grande tiragem, não é passível de contraditório em simultâneo.
Perceberam que aquele que não tem opinião e “fez” uma opinião, a torna sua e avessa a outras supervenientes, mesmo que repositórias da verdade.
Perceberam que hoje, em tempos que não há “cheta” para, sequer, ir passear para um qualquer “palácio dos pobres” (Agustina dixit), as massas, endogeneizadas, nesse fechamento de ostra em concha, deglutem doses absurdas de “treta” trasmitida pelo superador de todas as insuficiências, o ecrã que já foi mágico e hoje, mais que ilusório, é cartola de prestidigitador, no fundo, aquele que tem os dedos rápidos para nos surripiar da visão a realidade dos factos.
4º Até devem ser pessoas de bem.
Contudo, a venda da alma ao diabo, para poderem receber o afago do chefe, ou benquerença de uma opinião pública manipulada, diaboliza-os também, subvertendo todos os mais elementares valores comportamentais e sociais.
E perdem honra e vergonha.
E mentem com a boca ancha da mentira, que é a pior, porque mais dolosa e intencionalmente premeditada para enganar e induzir os enganados a agirem por palavras e actos enganosos, contra sua primária vontade, numa espécie de sedução, aquela que o código do processo penal preconiza, como prevaricação.
5º Até devem ser pessoas de bem.
Não obstante agem como malfeitores, numa grotesca encenação onde nada é deixado ao acaso.
Mesmo os esgares faciais; o tom de voz; a postura do corpo; a falsa emoção/comoção, etc.
E deste modo, tornam-se actores de uma pantomina onde tudo se subverte.
E deste modo, por tanto repetirem as mentiras, passam a acreditar nelas e a delas serem propagandistas oficiais.
E assim, outorgam-lhes estatuto de verdades.
E assim, tão interiorizadas ficam, que o político de uma qualquer governança, auto-erigido em farol de Alexandria, começa a chamar de mentirosos todos quantos se apoiam na verdade e dela fazem da vida esteios, e pelo acesso ilimitado aos meios de comunicação social subservientes e trauliteiros, difundem ondas de ódio a bem da sua mentira, contra a realidade, passando a mentirosos todos os defensores acérrimos da verdade.
6º Até podem ser pessoas de bem.
Mas não parecem, nem serão!

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Publicado em Editorial