Kafka vai ao banco…

Dizia, na noite de Natal e pela TV, um peralvilho qualquer que “este é o primeiro Natal sem nuvens de há muitos anos…” Trazia ao pescoço uma gravata azul celeste e, atrás de si, à direita, tinha um presépio novinho em folha, a brilhar e a passar a mensagem da sua provável fé. Sacristões hipócritas, estes […]

  • 17:05 | Terça-feira, 30 de Dezembro de 2014
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Dizia, na noite de Natal e pela TV, um peralvilho qualquer que “este é o primeiro Natal sem nuvens de há muitos anos…”
Trazia ao pescoço uma gravata azul celeste e, atrás de si, à direita, tinha um presépio novinho em folha, a brilhar e a passar a mensagem da sua provável fé.
Sacristões hipócritas, estes tipos sabem-na toda…
Hoje tentei ir a um banco tratar de um assunto que o serviço on-line e directo não adregou a resolver.
“Que preciso de mostrar um documento”, escrevia o assistente… “Mas eu scanarizo e mando”… “Não. Não é viável”, retorquiu. “Mas este on-line não serve para desburocratizar?”, ainda avancei tímido. “Não. Não é viável”, retorquiu de novo, por escrito, num copy paste monótono. Percebi que a “inviabilização” não me levaria a lado algum. E lá fui…
… Fui à agência… Depois de 15’ para estacionar, deparei com duas bichas que chegavam à porta. Bom, vou ali ao centro comercial, pois também lá há uma… Havia. Está lá a loja mas já está inactiva há muito tempo… disse-me um prestável segurança.
Fui à sede. Mais 20’ para arranjar lugar e… parquímetro pago… as bichas eram ainda maiores.
A bufar – a paciência nunca foi grande qualidade que me assistisse – fui a uma agência dos subúrbios. Um funcionário dentro de uma gaiola de vidro fosco de quem só se lobrigavam os sapatos e um outro, no curto balcão, afogueado, a suar e a atender, num estoicismo devotado, as mais de 30 pessoas que faziam “carreirinho”.
Vim-me embora a pensar nos tempos em que era óptimo ser funcionário bancário. Nos tempos em que os clientes gostavam de ir ao “seu” banco e eram tratados com cortesia e celeridade.
As instituições bancárias, em geral, estão a pagar muito caro os desmandos e as péssimas e impunes gestões de muitos dos seus administradores. Encerram-se balcões por todo o país, pois já morreram as “vacas gordas”; despedem-se colaboradores, de forma amigável ou coerciva; reduzem-se os serviços; informatiza-se a “coisa”, que passa a disfuncionar…
Eles, coitados, são as primeiras vítimas com trabalho triplicado. Nós, utentes, somos as segundas… pois passámos a ser tratados como nas urgências hospitalares: há quem morra ao fim de 6 horas de espera e com a ficha em branco.
País surreal… “não há nuvens”… pois não, até essas o furacão sugou.
Acabar com os serviços. Que se lixe o utente, esse chato só serve para pagar. Que se lixem todos e se engordem os mercados. A única máquina que funciona é a da extracção de impostos. Vá-se lá saber porquê!
 
 

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Publicado em Editorial