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Paulo Neto
Confesso… sou daqueles que me chamo desgraçado cada vez que tenho que ir a Coimbra. O excessivo fluxo de tráfego, um itinerário (IP3) de traçado obsoleto, difícil, perigoso e a consequente falta de condições de segurança são desmotivadoras da viagem, que não se consegue evitar quando os assuntos a tratar são inevitavelmente prementes.
Há quem faça o IP3 de credo na boca, mas também há quem o faça como se estivesse numa classificativa do rali de Portugal. Os extremos tocam-se. Se durante o dia, com redobrado cuidado se conseguem ultrapassar os “espinhos” desta via sacra, durante a noite e principalmente no Inverno, todo o cuidado é pouco. E como bem me lembro dos três anos que a percorri duas vezes por semana, e do que ali penei…!
O IP3 Coimbra Viseu tem sido cenário de um número absurdamente elevado de acidentes e de vítimas mortais. Ninguém o esquece e todos o lamentamos.
Ninguém ignora as redundantes e crónicas polémicas dos políticos da região servida por esta via. O passa culpas tem sido, mais do que uma verdadeira preocupação com a integridade dos utentes, um respaldo para discursos balofos, na maioria das vezes vindos de “actores” que há muito já nada têm a dizer aos eleitores e esfregam as mãos de contentamento com esse pretexto, numa “narrativa” vazia, agarrados a argumentos de circunstância, para mostrarem que ainda vivem e zelam pela “coisa pública”, quando, em boa verdade, já há muito estertoram no “moribundismo” da sua total ineficácia.
Isto a propósito do Diário da República, 2ª série, nº 132, páginas 52/53, de 10 de julho de 2023, portaria nº 321/2023 que, e cito: “Autoriza a Infraestruturas de Portugal, S.A., a proceder à repartição de encargos relativos ao contrato para a empreitada do IP3 Coimbra/Viseu – troço Santa Comba Dão-Viseu – duplicação/requalificação e respetiva fiscalização.”
Cremos que com esta portaria que entrou em vigor no dia 11 deste mês, muitas dúvidas ficaram dissipadas e que temos condições para acreditar na concretização da obra.
Claro está que os costumeiros profetas da calamidade, os fiscais dos “inconseguimentos”, os apóstolos de S. Tomé, terão que alterar 180 º as suas retóricas e virar-se para o “há muito que deveria estar feita a obra” (…) “ainda falta o concurso e a adjudicação” (…) “esta obra já não se conclui neste Governo” e etc. e tal.
Subscreveríamos toda esta polémica e oca contenda se, enquanto tiveram governo da cor, algo tivessem feito para contrariar esta prolongada inércia.
Mas também compreendemos que os deputados do não e os autarcas do “nim”, no “vaudeville” politiqueiro corriqueiro, se colem à lancinante paródia do coro das carpideiras, olhos rasos de lágrimas bogalhudas, vestes de negro luto, desolados e inconsolados por verem, enfim, o IP3 a andar…
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