Deste "fisco" até ao peditório para as festanças autárquicas…

    Tento ser um cidadão cumpridor. Isto apesar do conhecimento de que em Portugal só cumprem os “pequenos”, tendo os “grandes” amplo campo aberto à fuga de todos os seus deveres contributivos e sociais. Nomeadamente no que concerne ao pagamento de impostos. Como bem estarão lembrados, soubemos atónitos, há poucos dias, que o justiceiro […]

  • 18:01 | Quinta-feira, 04 de Maio de 2017
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Tento ser um cidadão cumpridor. Isto apesar do conhecimento de que em Portugal só cumprem os “pequenos”, tendo os “grandes” amplo campo aberto à fuga de todos os seus deveres contributivos e sociais. Nomeadamente no que concerne ao pagamento de impostos.
Como bem estarão lembrados, soubemos atónitos, há poucos dias, que o justiceiro do fisco, o qualquer-coisa-Núncio, sofreu de amnésias no concernente aos biliões de euros voadores para paraísos fiscais, nomeadamente de empresas às quais ele tinha estado – ou estaria ainda? – ligado. Imagine-se…
A comunicação social rapou das trompas e dos bombos para fazer o charivari costumeiro. Quinze dias depois calou-se. Ou porque a notícia ficou “podre” ou porque os “bosses” a mandaram calar.
A Assembleia da República fez mais uma daquelas rábulas chamadas “comissões de inquérito” muito mediáticas onde falam os senhores deputados, fazendo de contas que inquirem o “protagonista” de momento, o qual, faz também de contas que é muito cooperante, mas e no fundo, de pouco se lembrando ou nada, escudando-se em pretextos vários de “sigilos” esotéricos e, até, mentindo à fartazana com um ar de inocente candura desarmador de quaisquer reparos.
A filarmónica entoa o hino da Maria da Fonte e o processo encerra-se com muitos agradecimentos, cumprimentos e pungentes despedidas.
Passados uns dias sai um relatório “opaco”, muitas vezes assazmente mal redigido (será de propósito para desencorajar os leitores?), descortinam-se as omissões, entrevêem-se as falácias, enfileiram-se os silêncios. E agora vamos jantar a um restaurante gourmet, que a “coisa” dá muita sede e fome…
Sobre o tal Núncio, o terror do fisco, o tipo das penhoras aos pobres e da vista grossa aos biliões, nada mais se soube. Também nada mais se soube da corte de acólitos com responsabilidades no processo. De directores a sub-directores da Autoridade Tributária e outros mais no topo da hierarquia zelosa do “saque legal”.
Talvez para as calendas gregas venhamos a descortinar um décimo das irregularidades cometidas.
Hoje fui pagar o meu IMI e um IUC. Dinheirinho para a autarquia na sua quase totalidade. O meu contributo para os festivais da pinga, das pinturas das quintas dos amigos, das street art, street food, street music, bombos, arraiais, festas & bolos com que se enganam os tolos… A marca d’água deste executivo camarário viseense e seus báquicos beatos-seguidores, com a canhota batendo no peito e com a direita libando ao promissor futuro que nos garantirá muito de adjectivo mas nada de substantivo. Ademais acompanhado de buracos pela cidade fora para os milagrosos silos-auto e de eventuais vindouras privatizações de bens essenciais, como a água, para e de seguida, como as águas de um planalto de uma cidade vizinha, ascenderem às terceiras mais caras deste pobre Portugal, tão lastimavelmente caídos nas mãos desta rapaziada invocadora do mirífico e prestidigitado porvir para caucionar com um arremedo de nobreza os mais cínicos reais.
 
O fisco, essa instituição temerosa dos poderosos, prepotente e arrogante, sofre da autocracia dos imunes e dos impunes e, de ameaça em ameaça, com tribunais e penhoras, cobre-se de um pouco transparente véu na forma de actuar, recorrendo a artifícios difusos para sustentar argumentos da treta, deixando como alternativa às leituras enviesadas que faz das contestações, o remetimento para absurdos “recursos judiciais contra a decisão de aplicação de coima”, intimidando com cobranças coercivas, custas processuais, processos de execução fiscal e quejandos, fortalecidos com muita labieta e mais treta.
Pena é que tanta e tão profícua eficiência e eficácia não seja generalizada a todos os cidadãos deste “Portugal dos pequeninos”. Esta gente do fisco é certamente séria. Pena é que às vezes nos suscitem dúvidas, como a mulher de César…

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Publicado em Editorial