Afinal, a riqueza vem de onde?

Há em Tondela e na Régua dois museus, que contrariando esta tendência, entenderam “ostentar” não a riqueza como comummente a entendemos, mas sim, os humildes objectos que a propiciaram, as alfaias que a geraram, os artefactos essenciais à sobrevivência e evolução humana.

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  • 12:06 | Domingo, 23 de Maio de 2021
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Museu, originariamente, seria o templo das Musas. E quem eram as Musas? Eram entidades dotadas da capacidade de inspirar a criação. Eram 9 e filhas de Mnemósine, que personificava a memória, e de Zeus, deus dos céus, raios e relâmpagos, que mantém a ordem e justiça na mitologia grega. Ou seja, uma excelente ascendência. O templo das musas era o Museion, termo que deu origem à palavra museu como local de cultivo e preservação das artes e ciências.

Isto escrito, vamos ao assunto… Os museus, tais como se concebiam, serviam para expor riquezas artísticas. Pinturas consagradas, esculturas sumptuosas, mobiliário riquíssimo, adereços luxuosos, veículos de sonho, sofisticado armamento, joias inacessíveis, numismática, louças delicadas, faianças raras, arte sacra, etc.

Ou seja, expunham, em geral, a riqueza dos homens. De quais homens? Durante séculos, da nobreza e do clero. As duas classes sociais que prosperaram à custa do povo, humilde, laborioso, crente, crédulo, carenciado, explorado…

Assim, tornavam-se os museus em repositórios da riqueza que bem serviam para provocar o deslumbramento e perceber o fausto de alguns, poucos, em detrimento da miséria de milhões.


Hoje, esta noção, se persistente, começa a entrar num certo desgaste, também originário do “déjà vu” de muitas décadas de exposição.

Há em Tondela e na Régua dois museus, que contrariando esta tendência, entenderam “ostentar” não a riqueza como comummente a entendemos, mas sim, os humildes objectos que a propiciaram, as alfaias que a geraram, os artefactos essenciais à sobrevivência e evolução humana.

Assim, no Museu Terras de Besteiros, em Tondela, numa espaçosa sala, com holofotes em cima, no meio da divisão, um arado. Noutra, o barro negro de Molelos e o nome dos seus artífices, a cestaria, o linho…

 

 

 

 

No Museu do Douro, na Régua, as cestas das vindimas, as alfaias dos vindimadores, os arados de sulcar xisto e terra, as pipas, as garrafas, os artefactos para produzir vinho…

 

 

 

 

Evidentemente que, lado a lado, ambas as tendências podem coexistir. Que mais não seja para nos presentificarem a abissalidade existente entre o acessório e o essencial, a riqueza e a pobreza, o ócio e o trabalho.

Felizmente que a mentalidade humana conduziu a essa dual perspectiva. Felizmente que o homem decidiu prestar tributo e homenagem aos anónimos obreiros do mundo em que vivemos.

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